30/06/2011, Espírito Santo
Sessão na Assembleia debate índices
de homicídios entre jovens do Estado
Lívia Francez
A Assembleia Legislativa entrou no debate em torno do extermínio de jovens, por meio de uma sessão especial realizada na noite desta quinta-feira (30), no plenário Dirceu Cardoso. O extermínio da juventude, principalmente de jovens negros, é considerado epidêmico no Estado e as estatísticas dispararam nos oito anos de governo Paulo Hartung, sem que fossem elaboradas políticas sociais e de trabalho para promoção desses jovens.
Prevista-se que do debate deverá participar a professora doutora Eugênia Raizer, do curso de Serviço Social da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que também é coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Violência, Segurança Pública e Direitos Humanos da Universidade. Somente neste ano, segundo os dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), dos 735 assassinatos registrados até maio deste ano, 399 foram de jovens com idades entre 15 e 29 anos.
Os índices de violência entre jovens colocaram o Estado no topo do ranking nacional. O Mapa da Violência 2011 – Os Jovens do Brasil, um estudo minucioso do Ministério da Justiça, em parceria com o Instituto Sangari, divulgado em fevereiro deste ano, traz o Espírito Santo com um dos piores índices em relação aos homicídios entre a população geral e, principalmente, entre os jovens na faixa etária que vai dos 15 aos 24 anos.
O relatório explicita que o Estado, junto com Alagoas e Pernambuco, com suas taxas acima de 100 vítimas jovens a cada 100 mil habitantes, ostentam marcas que não têm comparação mundial e, justamente por conta do número elevado, ultrapassam a categoria de violência epidêmica.
Nem a maquiagem nos números de homicídios, feita usualmente pela Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) durante o governo Paulo Hartung (PMDB), foi capaz de reduzir os índices reais de mortes do Estado. O relatório do Instituto Sangari tem como base o ano de 2008 e anos anteriores, justamente o período de maior exposição do Estado pelos
altos índices de homicídios e falta de políticas sociais e de trabalho voltadas à promoção da juventude. No Estado, no ano de 2008, 754 jovens foram vítimas de homicídio, enquanto em 2007 foram 684 e, 2006, 671. A variação entre os anos de 1998 e 2008 foi de 26,5%, no índice. Esses números se tornam ainda mais expressivos quando considerados em relação a 100 mil habitantes. No ano de 2008 foram 120 homicídios de jovens por 100 mil; em 2007, 104,3, e 2006 registrou 101,4 mortes violentas a cada 100 mil habitantes, o que coloca o Espírito Santo em 2° lugar no ranking de homicídios da população jovem no País em 2008, assim como também acontece na tabela geral de mortes, com 120 homicídios por 100 mil, perdendo apenas para Alagoas. A colocação no ano-base do relatório é uma posição acima da de 1998, quando o Estado era 3°, com 102,2 mortes por 100 mil habitantes, somente perdendo para Pernambuco, que na época registrava 115,7 homicídios por 100 mil e conseguiu baixar para 106,1.
Quando os números de homicídios são expostos à diferenciação por raça e cor da vítima, os índices se tornam ainda mais alarmantes e revelam que a juventude negra está, de fato, sendo vítima de extermínio no Estado. Isso acontece porque a maioria dos jovens negros está em áreas de baixa qualidade de vida urbana e não conta com nenhuma política social para melhorar de vida. Além disso, enfrenta perseguições decorrentes do racismo que ainda persiste na sociedade. O descaso recorrente do poder público é refletido nos números do relatório do Instituto Sangari, até o ano de 2008. O levantamento do número de homicídios por raça/cor começou a ser analisado a partir de 2002, já que até este ano os dados ficavam incompletos, por conta de problemas com subnotificações do Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde. Pelos números totais registrados nos anos de 2002, 2005 e 2008, nota-se que existe um abismo entre os homicídios registrados com vítimas negras e brancas. Em 2008, 498 jovens negros foram assassinados no Estado, contra 70 jovens brancos. Já em 2005, foram 424 negros para 79 brancos e, em 2002, 352 mortes violentas de jovens negros contra 87 de jovens brancos. A comparação das mortes por 100 mil habitantes revela o quanto a juventude negra do Estado é vitimizada. Em 2008, enquanto o número de homicídios de jovens brancos foi de 27,5 por 100 mil, o de negros saltou
para 147,2 por 100 mil habitantes, números comparáveis à guerra civil. E o número de homicídios entre jovens negros coloca o Espírito Santo em 3° lugar no ranking de homicídios, no comparativo por 100 mil habitantes, com 136,5 mortes violentas. A taxa entre jovens brancos é de 27,63 homicídios por 100 mil, colocando o Estado em 8° neste ranking.
Nenhum comentário:
Postar um comentário