01 de outubro de 2011
Educação no Brasil | Jornal da Comunidade | Educação | DF
A tragédia do último dia 22 de setembro, em uma escola no ABC paulista, deixou todo o Brasil perplexo! Um bom aluno de 10 anos, estudante de uma escola com bons resultados nas avaliações educacionais nacionais, pertencente a um município com um bom índice de desenvolvimento humano (IDH), com família estruturada na forma tradicional, sacou um revólver calibre 38, atirou contra a professora, em sua sala de aula, e disparou contra a própria cabeça.
O resultado foi trágico: ele perdeu a vida e a professora está convalescendo. Os fatores totalmente atípicos que envolvem esta tragédia, diferentemente do que acostumamos a assistir, criaram um fato absolutamente anormal - mesmo para a sociedade acostumada com a banalização da violência, a exemplo da brasileira.
Segundo reportagem do jornal Diário do Grande ABC, a criança "puxava" de uma perna, o que a levava a mancar. Com isso, de acordo com aquele editorial, ele sofria bullyng, uma das formas em que se apresenta a violência nas escolas.
O bullyng é um fenômeno encontrado em escolas públicas e privadas em todo o mundo, dentro e fora das salas de aula. É definido como um conjunto de comportamentos agressivos, intencionais e repetitivos, adotados por um ou mais alunos, contra outro (s) em desvantagem de poder ou força física, em motivação evidente sob a forma de "brincadeiras", que disfarçam o propósito de maltratar e intimidar, causando dor, angústia, ódio e sofrimento à vítima. Se realmente o pequeno David foi uma vítima de bullyng, jamais saberemos!
A violência tem multicausas e requer intervenções de diferentes setores da sociedade, não bastam uma segurança pública e um Judiciário eficiente, é fundamental que as melhorias sejam constantes e contínuas nos sistemas educacional, de saúde, habitacional e de segurança, na geração de oportunidades de emprego, dentre outros fatores.
Em seus mais variados contornos, é um fenômeno histórico na constituição da sociedade brasileira. A escravidão (primeiro com os índios e depois, e especialmente, com a mão de obra africana), a colonização mercantilista, o coronelismo, as oligarquias antes e depois da independência, somados a um Estado caracterizado pelo autoritarismo burocrático, contribuíram enormemente para o aumento da violência que atravessa a história brasileira.
Outros fatores também colaboram para aumentar a violência, tais como a urbanização acelerada, que traz um grande fluxo de pessoas para áreas urbanas e contribui para o crescimento desordenado das cidades. Também as fortes aspirações de consumo, incentivadas pela publicidade de massa, em parte frustrada pelas dificuldades de inserção no mercado de trabalho.
Alguns indicadores mostram a precariedade das políticas de contenção da violência, conforme dados da Unesco. A cada 13 minutos um brasileiro é assassinado; a cada sete horas uma pessoa é vítima de acidente com arma de fogo. Um cidadão armado tem 57% mais de chances de ser assassinado do que os que andam desarmados, as ocorrências provocadas com armas de fogo dão uma despesa ao SUS de mais de R$ 200 milhões. Por ano morrem no Brasil cerca de 25 mil pessoas vítimas do trânsito e 45 mil por armas de fogo. Em São Paulo, quase 60% dos homicídios são cometidos por pessoas sem histórico criminal e por motivos fúteis. No Distrito Federal, a cada quatro minutos ocorre um delito. São 15 crimes por hora.
Esse retrato mostra que o desafio é imenso e exige uma profunda reforma no sistema de prevenção e combate criminal e, em especial, é necessário que as causas das diversas formas de violência também sejam compreendidas e enfrentadas. Caso contrário, este grave problema que assusta e atinge toda a sociedade não será enfrentado de forma efetiva.
A recente tragédia, que mais se assemelha aos noticiários americanos, reafirma a nossa convicção de que não podemos perder nunca a capacidade de nos indignarmos. A violência não é banal e não pode ser banalizada!
Deputado distrital pelo Partido dos Trabalhadores
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