Serví de desculpa, Ëpoca, 22 de abril, 2012
Cristovam Buarque: Senador pelo PDT-DF. Foi governador do Distrito Federal de 1995 a 1998 e ministro da Educação de Lula em 2003 e 2004 |
O senador Cristovam Buarque conta por que se arrepende de ter se candidatado ao cargo de diretor-geral da UNESCO"Há erros definitivos, que não permitem correção de rumo, e os menores, que não desviam irreversivelmente o rumo da vida. Entre os primeiros, alguns são identificados, outros não, por se desconhecer o que teria ocorrido se o erro não fosse cometido. É impossível saber se foi um erro pessoal ter me afastado da vida acadêmica para me dedicar à política. Se tivesse continuado na academia, minha contribuição e minha realização pessoal talvez tivessem sido maiores. Mas foi a política que permitiu levar ideias dos livros para as leis.
Como governador do Distrito Federal, errei ao nomear um dirigente do sindicato de professores para as relações do governo com os servidores, o que me levou a enfrentar uma greve de professores. Muitos dizem que foi erro negar aumento aos servidores no debate da eleição de 1998, que perdi. Foi erro eleitoral, mas acerto por evitar a desmoralização de não cumprir um compromisso que sabia não poder cumprir.
Mas o erro do qual não tenho dúvida foi ter me lançado candidato a diretor-geral da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em 2008. Pelo tradicional sistema de rodízio, era o momento de o Brasil ter o diretor-geral dessa importante instituição. Com o prestígio brasileiro, graças ao então presidente Lula, a eleição seria muito facilitada. Além disso, para mim, a Unesco é o organismo com mais condições de coordenar o debate mundial sobre as alternativas futuras para a civilização. Havia um ótimo candidato brasileiro, o próprio diretor-geral adjunto, Marcio Barbosa. Mas fui informado de que o governo brasileiro não lhe daria apoio. Se o Brasil não o apoiaria, considerei que eu poderia ser a alternativa brasileira.
Na realidade, Lula e o ministro Celso Amorim não queriam nenhum brasileiro como diretor da Unesco, porque desejavam agradar aos países árabes. Preferiam guardar a posição para outro organismo das Nações Unidas. Por isso fizeram campanha pelo ministro da Cultura do governo de Hosni Mubarak, do Egito. Mas, no lugar de explicitarem isso ao Marcio Barbosa, terminaram usando minha candidatura como desculpa para que o Brasil não apoiasse nenhum candidato brasileiro.
Meu erro foi achar que Lula e Celso Amorim teriam interesse em apoiar um candidato brasileiro para um cargo tão importante e achar que, como não queriam o Marcio, me apoiariam. Foi um erro também não ter discutido o assunto diretamente com o próprio Marcio Barbosa. O governo já tinha tomado sua posição contra qualquer brasileiro. Nada mudaria se não tivesse me lançado. Mas eu não teria servido como desculpa para o governo. Nem criado conflito com um quadro internacionalmente respeitado, como o Marcio Barbosa. Não percebi que a estratégia do presidente e seu ministro era impedir a eleição de qualquer brasileiro para diretor-geral daUnesco. A exclusão do Marcio já estava definida na estratégia do governo, mas eu cometi um erro ao me lançar como alternativa."
Como governador do Distrito Federal, errei ao nomear um dirigente do sindicato de professores para as relações do governo com os servidores, o que me levou a enfrentar uma greve de professores. Muitos dizem que foi erro negar aumento aos servidores no debate da eleição de 1998, que perdi. Foi erro eleitoral, mas acerto por evitar a desmoralização de não cumprir um compromisso que sabia não poder cumprir.
Mas o erro do qual não tenho dúvida foi ter me lançado candidato a diretor-geral da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em 2008. Pelo tradicional sistema de rodízio, era o momento de o Brasil ter o diretor-geral dessa importante instituição. Com o prestígio brasileiro, graças ao então presidente Lula, a eleição seria muito facilitada. Além disso, para mim, a Unesco é o organismo com mais condições de coordenar o debate mundial sobre as alternativas futuras para a civilização. Havia um ótimo candidato brasileiro, o próprio diretor-geral adjunto, Marcio Barbosa. Mas fui informado de que o governo brasileiro não lhe daria apoio. Se o Brasil não o apoiaria, considerei que eu poderia ser a alternativa brasileira.
Na realidade, Lula e o ministro Celso Amorim não queriam nenhum brasileiro como diretor da Unesco, porque desejavam agradar aos países árabes. Preferiam guardar a posição para outro organismo das Nações Unidas. Por isso fizeram campanha pelo ministro da Cultura do governo de Hosni Mubarak, do Egito. Mas, no lugar de explicitarem isso ao Marcio Barbosa, terminaram usando minha candidatura como desculpa para que o Brasil não apoiasse nenhum candidato brasileiro.
Meu erro foi achar que Lula e Celso Amorim teriam interesse em apoiar um candidato brasileiro para um cargo tão importante e achar que, como não queriam o Marcio, me apoiariam. Foi um erro também não ter discutido o assunto diretamente com o próprio Marcio Barbosa. O governo já tinha tomado sua posição contra qualquer brasileiro. Nada mudaria se não tivesse me lançado. Mas eu não teria servido como desculpa para o governo. Nem criado conflito com um quadro internacionalmente respeitado, como o Marcio Barbosa. Não percebi que a estratégia do presidente e seu ministro era impedir a eleição de qualquer brasileiro para diretor-geral daUnesco. A exclusão do Marcio já estava definida na estratégia do governo, mas eu cometi um erro ao me lançar como alternativa."
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