22 de abril de 2012

HÉLIO SCHWARTSMAN Genuinamente generosos



SÃO PAULO - Algo importante está acontecendo na biologia. O conceito de seleção de grupo, segundo o qual determinados genes podem fixar-se ou espalhar-se numa população por causa dos benefícios que fornecem à comunidade (e não aos indivíduos), está voltando com força.
A ideia fora originalmente proposta por ninguém menos que Charles Darwin (1809-1882), ainda que com reservas. Mas foi nos anos 70 que a seleção de grupo se viu praticamente banida da ortodoxia biológica.
Embora sempre admitindo que ela era em princípio possível, autores do calibre de George Williams, John Maynard Smith e Richard Dawkins a dizimaram. O principal argumento é o de que ela não é muito estável: sempre valeria a pena para indivíduos egoístas pegar carona na coesão grupal sem dar sua cota de contribuição. Eles teriam maior sucesso reprodutivo, espalhando seus genes menos colaborativos. Seria assim muito difícil fixar num pool genético características que favorecem o grupo.
Estava inaugurada a era do gene egoísta. Comportamentos aparentemente abnegados eram, na verdade, explicados por interesses mais comezinhos, como a seleção por parentesco (perpetuar os genes da família) ou o altruísmo recíproco (um investimento no mercado futuro).
A maré pode estar virando. Só neste mês foram publicados dois importantes livros, "The Righteous Mind", de Jonathan Haidt, e "The Social Conquest of Earth", de E. O. Wilson, que afirmam, com todas as letras, que a seleção de grupo foi fundamental para moldar a evolução humana. Se isso é verdade, estamos livres para ser genuinamente generosos.
O caso de Wilson é simbólico porque ele foi um dos principais advogados da seleção por parentesco. Hoje diz que tanto sua biologia como sua matemática estavam erradas.
A celeuma, que envolve cálculo avançado e pode ficar bastante técnica, está só começando. Os próximos anos serão agitados na biologia.

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