Os adolescente são as principais vítimas de assassinatos no Brasil. E entre eles, os brancos são minoria absoluta
RENATA MARIZ, Correio Brasiliense, 1/12/2012
RENATA MARIZ, Correio Brasiliense, 1/12/2012
A violência no Brasil mata, principalmente, meninos negros à beira da vida adulta. O pico da mortalidade no país por tiro, faca, espancamento e outras formas de assassinato se dá, exatamente, aos 21 anos. Em cada grupo de 100 mil pessoas brancas, a taxa de homicídios entre adolescentes é de 37,3. No caso dos negros, porém, o índice é bem mais elevado: a relação chega a 89,6 para grupos de 100 mil habitantes negros. E ambas as taxas superam muito a média total brasileira de mortes violentas - que já é alarmante - de 26 mortos por grupo de 100 mil habitantes.
Os dados constam do Mapa da Violência 2012: A cor dos homicídios, elaborado pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela), com a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) e a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), ligada à Presidência da República. Segundo Jorge Werthein, presidente do CEBELA o impacto da matança de jovens no país é incalculável.
"Estamos falando não apenas de perda de vidas, o que é gravíssimo, mas perda de vidas na fase produtiva, de pessoas muito jovens, especialmente negras, que estão morrendo em quantidades inaceitáveis", diz Werthein. Ele explica que, com base nos dados levantados, foi possível fazer comparações entre as taxas brasileiras e as de países europeus, como Inglaterra, Alemanha, Holanda e França. "Para cada jovem assassinado nesses países (por 100 mil habitantes), temos 144 jovens negros mortos no Brasil, 205 na Bahia, e 346 em Alagoas. É alarmante", diz.
Para o sociólogo Julio Jacobo, coordenador do estudo, é intrigante verificar que a proporção de brancos assassinados por 100 mil habitantes da mesma cor caiu de 20,6 para 15,5 no Brasil, entre 2002 e 2010. Já a de negros subiu de 34,1 para 36 no mesmo período. "São taxas que não condizem com o crescimento econômico e social experimentado pelo país nos últimos anos. Não sabemos precisar as causas específicas desse fenômeno, mas ele tem que ser investigado para ser considerado no momento de se fazer políticas públicas", diz o pesquisador.
Os jovens, de uma forma geral, explica Werthein, formam um grupo mais vulnerável pelas peculiaridades. "São pessoas em um processo de passagem para a vida adulta, que precisam fazer escolhas, tomar decisões. Para todo mundo, é uma etapa diferente, complexa. Aliado a isso, vemos uma carência de políticas públicas que atendam a essa fatia da população, sobretudo a mais pobre", destaca o sociólogo.
Ele explica que não bastam as iniciativas tradicionais, como garantir matrícula na escola ou acesso ao posto de saúde. "O jovem, especiamente o dos espaços mais carentes, precisa de um sistema de inclusão que englobe lazer, atividades desportivas, capacitação", aponta Werthein. De acordo com o Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 50,7% da população do país se autodeclara negra.
Situação epidêmica De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a situação é considerada epidêmica quando as taxas de homicídio superam 10 ocorrências por grupo de 100 mil habitantes. Isso significa que o problema, no caso a violência, fugiu do controle por meios convencionais e tende a crescer e se espalhar rapidamente, a menos que sejam colocadas barreiras de contenção eficientes. Em Simões Filhos (BA), líder no ranking dos homicídios juvenis no Brasil, com uma população de 34,6 mil jovens, 146 morreram de forma violenta em 2010. Desses, 137 eram negros.
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