Na última quinta-feira, 29 de novembro, período que se comemora a história de luta e resistência negra, a população negra sergipana é "presenteada" com números do Mapa da Violência que mais uma vez desfavorecem esta parcela da sociedade.
Fatores históricos que contribuíram para retirada de direitos considerados universais, além da opressão para com o negro, parecem que a todo o momento ganham formas mais sofisticadas no bojo da relação interpessoal, e em diversos pontos institucionais, seja no setor público ou privado.
Segundo o levantamento feito em 2010 pelo instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade de Aracaju, capital de Sergipe, apresenta a cifra de 61,1% de sua população autodeclarada entre negros e pardos. No entanto, não diferente de outras capitais no Brasil, as condições do negro urbano ainda reflete bastante os resquícios das relações raciais estabelecida no sistema escravocrata.
Para ter ideia de quão cruel é o racismo sistêmico no Brasil, e, em especial no estado de Sergipe, estudos realizados pela Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), mostram que a participação da população que se autodeclarou negra no estado caiu em 6,7%. Média essa considerada uma das maiores do Brasil. Ou seja, a população negra sergipana que antes fora considerada a oitava maior do Brasil, hoje tem receio de assumir-se negra. Um retrocesso no que diz respeito à tomada de consciência da negritude deste setor que tanto contribuiu e contribui para formação cultural e econômica do estado.
Para tanto, são diversos os fatores que levam a população negra não reivindicar sua negritude. A violência simbólica difundida pelo meios de comunicação através do discurso é um deles, no entanto, o que mais marca este setor social, é o alto índice de violência presente no dia a dia das comunidades situadas nas periferias de Aracaju.
Segundo o mapa da violência liberado no mês de novembro, pelo Governo Federal, a equação atinge a sangrenta cifra de 272.422 negros assassinados em todo Brasil. Isso resulta na média anual de 30.269 mortes. Apenas em 2010, foram 34.983 registros. Para obter esses números foram considerados os dados do sistema de informações de mortalidade do Ministério da Saúde.
Para Júlio Jacobo, professor responsável pela pesquisa, “o estudo confirma que o pólo de violência no país são os jovens negros, e não é por casualidade. Temos no país uma cultura que justifica a existência da violência em várias instâncias. O Estado e as famílias toleram a violência e é essa cultura que faz com que ela se torne corriqueira, que qualquer conflito seja resolvido matando o próximo”, disse.
No estado de Sergipe, se comparado o número de homicídio entre a população negra e branca, do ano de 2002 a 2012, houve uma queda de mais de 10% no que diz respeito ao não negros, em contrapartida, a negrada atingiu o alarmante índice de 53,2%. No ordenamento das Unidades da Federação pelas taxas em 2010, a terra de João Mulungu ocupa a lamentável décima primeira posição no que diz respeito ao genocídio de negros.
O professor atenta para o fato da baixa produção no que tange as políticas públicas voltadas para estes jovens que se tornaram o alvo preferido da violência. O que tudo indica que a falta de ocupação contribui para que a cultura da violência faça parte da rotina da juventude negra. “Há no país cerca de 8 milhões de jovens negros que não estudam nem trabalham. As políticas públicas de incorporação dessa parcela da população são fundamentais para reverter o quadro”.
Para verificar o estudo na íntegra, acesse o site do http://mapadaviolencia.org.br/pdf2012/mapa2012_cor.pdf. .
Por Pedro de Oliveira- Correspondente do Correio Nagô em Sergipe.
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