Folha de S.Paulo, 13/4/2013
Nos anos 1970, entrou em voga a preocupação com as ameaças à privacidade.
Os mais radicais lutavam contra a adoção de números únicos de identificação (o nosso CPF) e a favor do habeas data (o direito de uma pessoa conhecer e retificar seus dados em repositórios oficiais). O "Grande Irmão" orwelliano parecia prestes a encarnar e atendia pelo nome de governo.
Esses receios, hoje, parecem coisa de velho. A moda agora é entregar informação pes- soal nas redes sociais voluntária e gratuitamente. Até sequências de DNA as pessoas põem no domínio público.
Acumular dados sobre indivíduos tornou-se fonte de lucros para empresas ("data brokers") como Acxiom, Experian e Datalogix. Seu negócio é rastrear padrões de comportamento de indivíduos e vender a informação.
Os compradores podem ser agências de publicidade, bancos e operadoras de cartão de crédito ou marqueteiros de campanhas políticas. Seu interesse é vender certos produtos para as pessoas com maior propensão a comprá-los. Por exemplo, o candidato fajuto.
Só a Acxiom, que vale US$ 1,4 bilhão segundo informou quarta-feira o jornal "Financial Times", tem 7.000 clientes e dados sobre 700 milhões de consumidores. Sob pressão de autoridades, já se prepara para permitir que cada pessoa tenha acesso a seu próprio dossiê digital. Excluir ou corrigir dados serão outros 500.
Serviço mais simpático oferecem bancos genealógicos, sucesso nos EUA. A partir de US$ 159, o cidadão motivado a localizar parentes desconhecidos pode encomendar a leitura de um fragmento de seu DNA. Depois, faz o "upload" da sequência para descobrir sobrenomes de famílias com perfil genético similar.
Há sites em que a busca é gratuita (www.ysearch.org e www.smgf.org). A genealogia recreacional, no entanto, implica riscos adicionais para a privacidade.
Em 18 de janeiro, pesquisadores do MIT contaram, na revista "Science", como os bancos genealógicos ajudaram a identificar uma pessoa entre milhares que já cederam para uso científico a sequência completa de seu genoma (e não só um pedacinho do cromossomo Y). Em teoria, qualquer voluntário pode agora ter seu nome vinculado às mazelas hereditárias em seu DNA.
Tudo isso empalidece, contudo, diante da ameaça à privacidade veiculada pelos "drones". Além das mortes de civis e terroristas que causaram no Afeganistão, esses aeromodelos já sobrevoam as cabeças de cidadãos norte-americanos, primeiro pelas mãos da polícia, logo teleguiados por empresas, "paparazzi" ou bandidos. Alguns Estados preparam leis para disciplinar a invasão.
Os anos 1970 voltam à moda, e o retorno das calças boca de sino não é o pior a temer.
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