9 de maio de 2011 O Globo | O País | BR
Pesquisa em escolas municipais do Rio mostra que 53% dos docentes têm dificuldades de lidar com tecnologia
Ruben Berta
Em pleno século XXI, o mundo virtual ainda é um território que causa medo em muitos professores. Uma pesquisa realizada em parceria pela Secretaria municipal de Educação do Rio, pelo Instituto Oi Futuro e pelo Ibope com 5.505 docentes revela que mais da metade deles (53%) admitiu ter dificuldades em lidar com tecnologia na escola por várias razões. Entre 1.532 diretores de colégios entrevistados, a porcentagem também foi de 53%. O levantamento ouviu 25.145 alunos: 40% disseram ter problemas para usar a informática nas unidades de ensino.
- Até há pouco tempo, havia uma relação de poder onde o professor era o detentor da informação. Era uma via de mão única. O que estamos notando agora é que os alunos estão um pouco à frente dos docentes, mais familiarizados com tecnologia. E os professores ainda não estão preparados para a aplicação pedagógica. Esse descompasso revela a necessidade de um processo de treinamento e acompanhamento dos profissionais - comentou o vice-presidente do Instituto Oi Futuro, George Moraes.
Entre os professores, 35% disseram usar bastante a tecnologia em sua profissão, mas admitiram ter dificuldades em aproveitar seu potencial; 11% alegaram simplesmente não usar por falta de habilidade; outros 7% informaram não usar por outros motivos como falta de interesse ou acesso. Já entre os alunos, só 18% disseram usar muito a tecnologia, mas com dificuldades. Apenas 3% assinalaram não usar a informática por falta de habilidade. A maioria, 19%, apontou problemas como falta de interesse ou acesso para não usufruir a tecnologia.
Apesar de acusarem a falta de habilidade, os docentes querem aprender: 83% apontaram os cursos de informática como os mais importantes para o aperfeiçoamento da sua atuação profissional.
A pesquisa foi realizada entre maio e julho do ano passado e só foi divulgada agora, como parte da preparação para um projeto ousado da prefeitura do Rio. Com apoio do Oi Futuro e do Ministério da Educação (MEC), o município começou este ano a implementar em todas as turmas de segundo segmento do ensino fundamental (6º ao 9º ano) um sistema de aulas digitais: o Educopédia. O investimento total é de cerca de R$30 milhões, e o objetivo da Secretaria municipal de Educação é chegar até o segundo semestre com o programa completo em 430 unidades.
Professores já têm projetores nas salas de aula
Atualmente, mais da metade das escolas com segundo segmento já está utilizando as aulas digitais. Foram instalados nas salas de aula projetores em que os professores expõem o conteúdo do site (www.educopedia.com.br). Elementos como vídeos e jogos auxiliam nos conteúdos das disciplinas. Os docentes têm material disponível para uma aula por semana. Na Escola Municipal Epitácio Pessoa, no Andaraí, na Zona Norte, a professora de matemática Maria Helena Ferreira Moreira é uma das entusiastas da tecnologia, mas admite que muitos colegas ainda têm resistência.
- É preciso entender o novo papel de mediador na sala de aula. A tecnologia é um instrumento dinâmico, atrativo, que envolve o aluno e o motiva mais - destacou Maria Helena.
A intenção da Secretaria de Educação é que cada aluno possa realizar as atividades do Educopédia em seu próprio netbook. Os equipamentos já começaram a chegar a algumas escolas. Na Epitácio Pessoa, repórteres do GLOBO acompanharam na última quarta-feira a primeira turma da unidade, de 6º ano, que trabalhou com os computadores. A alegria foi tanta que foi difícil convencer os alunos a irem para o recreio.
A ousadia de colocar um computador para cada aluno emperra em dificuldades. A prefeitura teve que cancelar o contrato de internet de alta velocidade nas escolas porque a empresa não conseguiu cumpri-lo. Até o meio do ano, deve ser feita uma nova licitação. A conexão é fundamental no projeto. Por uma nova plataforma que está sendo desenvolvida, será possível até que cada aluno tenha um caderno virtual, onde poderá responder a provas objetivas, que poderão ser corrigidas automaticamente. Cada estudante já está recebendo uma senha de e-mail que será a sua assinatura no Educopédia.
Computadores chegam, mas são pouco usados
Além da resistência de alguns professores, o uso da tecnologia esbarra em outros problemas. Única unidade da cidade do Rio a ser contemplada com o programa federal Um Computador para Cada Aluno (UCA), a Escola Municipal Madrid, em Vila Isabel, recebeu em 2010 cerca de 340 netbooks. No entanto, pouco mais de 30 estão em uso. Desses, três já quebraram.
- Recebemos os computadores, mas só veio um armário especial, usado para carregá-los de energia, cedido pela prefeitura do Rio. Sem esse equipamento, não vamos poder usar mais computadores. A carga é de apenas duas horas - diz a diretora Marina Campos Kickinger, que ainda afirma que vem tendo dificuldades com o suporte técnico dos netbooks.
Mesmo com dificuldades, duas turmas da unidade já estão trabalhando com os computadores. Numa primeira etapa, professores e agora estudantes estão sendo capacitados. Como cada aluno tem o seu netbook, é possível até personalizá-lo.
Na rede estadual do Rio, apesar do alto investimento em tecnologia - com compra de mais de 50 mil laptops e implementação de um sistema que permite o controle de frequência e notas dos alunos de todas as escolas on-line -, o superintendente de Tecnologia da Informação da Secretaria estadual de Educação, Sérgio Mendes, admite que o uso pedagógico é mínimo:
- Esse é o grande desafio. Hoje, temos poucas escolas usando tecnologia para que os professores deem aulas melhores. Vamos avaliar essas iniciativas isoladas para ano que vem implementar um modelo.
Pesquisa em escolas municipais do Rio mostra que 53% dos docentes têm dificuldades de lidar com tecnologia
Ruben Berta
Em pleno século XXI, o mundo virtual ainda é um território que causa medo em muitos professores. Uma pesquisa realizada em parceria pela Secretaria municipal de Educação do Rio, pelo Instituto Oi Futuro e pelo Ibope com 5.505 docentes revela que mais da metade deles (53%) admitiu ter dificuldades em lidar com tecnologia na escola por várias razões. Entre 1.532 diretores de colégios entrevistados, a porcentagem também foi de 53%. O levantamento ouviu 25.145 alunos: 40% disseram ter problemas para usar a informática nas unidades de ensino.
- Até há pouco tempo, havia uma relação de poder onde o professor era o detentor da informação. Era uma via de mão única. O que estamos notando agora é que os alunos estão um pouco à frente dos docentes, mais familiarizados com tecnologia. E os professores ainda não estão preparados para a aplicação pedagógica. Esse descompasso revela a necessidade de um processo de treinamento e acompanhamento dos profissionais - comentou o vice-presidente do Instituto Oi Futuro, George Moraes.
Entre os professores, 35% disseram usar bastante a tecnologia em sua profissão, mas admitiram ter dificuldades em aproveitar seu potencial; 11% alegaram simplesmente não usar por falta de habilidade; outros 7% informaram não usar por outros motivos como falta de interesse ou acesso. Já entre os alunos, só 18% disseram usar muito a tecnologia, mas com dificuldades. Apenas 3% assinalaram não usar a informática por falta de habilidade. A maioria, 19%, apontou problemas como falta de interesse ou acesso para não usufruir a tecnologia.
Apesar de acusarem a falta de habilidade, os docentes querem aprender: 83% apontaram os cursos de informática como os mais importantes para o aperfeiçoamento da sua atuação profissional.
A pesquisa foi realizada entre maio e julho do ano passado e só foi divulgada agora, como parte da preparação para um projeto ousado da prefeitura do Rio. Com apoio do Oi Futuro e do Ministério da Educação (MEC), o município começou este ano a implementar em todas as turmas de segundo segmento do ensino fundamental (6º ao 9º ano) um sistema de aulas digitais: o Educopédia. O investimento total é de cerca de R$30 milhões, e o objetivo da Secretaria municipal de Educação é chegar até o segundo semestre com o programa completo em 430 unidades.
Professores já têm projetores nas salas de aula
Atualmente, mais da metade das escolas com segundo segmento já está utilizando as aulas digitais. Foram instalados nas salas de aula projetores em que os professores expõem o conteúdo do site (www.educopedia.com.br). Elementos como vídeos e jogos auxiliam nos conteúdos das disciplinas. Os docentes têm material disponível para uma aula por semana. Na Escola Municipal Epitácio Pessoa, no Andaraí, na Zona Norte, a professora de matemática Maria Helena Ferreira Moreira é uma das entusiastas da tecnologia, mas admite que muitos colegas ainda têm resistência.
- É preciso entender o novo papel de mediador na sala de aula. A tecnologia é um instrumento dinâmico, atrativo, que envolve o aluno e o motiva mais - destacou Maria Helena.
A intenção da Secretaria de Educação é que cada aluno possa realizar as atividades do Educopédia em seu próprio netbook. Os equipamentos já começaram a chegar a algumas escolas. Na Epitácio Pessoa, repórteres do GLOBO acompanharam na última quarta-feira a primeira turma da unidade, de 6º ano, que trabalhou com os computadores. A alegria foi tanta que foi difícil convencer os alunos a irem para o recreio.
A ousadia de colocar um computador para cada aluno emperra em dificuldades. A prefeitura teve que cancelar o contrato de internet de alta velocidade nas escolas porque a empresa não conseguiu cumpri-lo. Até o meio do ano, deve ser feita uma nova licitação. A conexão é fundamental no projeto. Por uma nova plataforma que está sendo desenvolvida, será possível até que cada aluno tenha um caderno virtual, onde poderá responder a provas objetivas, que poderão ser corrigidas automaticamente. Cada estudante já está recebendo uma senha de e-mail que será a sua assinatura no Educopédia.
Computadores chegam, mas são pouco usados
Além da resistência de alguns professores, o uso da tecnologia esbarra em outros problemas. Única unidade da cidade do Rio a ser contemplada com o programa federal Um Computador para Cada Aluno (UCA), a Escola Municipal Madrid, em Vila Isabel, recebeu em 2010 cerca de 340 netbooks. No entanto, pouco mais de 30 estão em uso. Desses, três já quebraram.
- Recebemos os computadores, mas só veio um armário especial, usado para carregá-los de energia, cedido pela prefeitura do Rio. Sem esse equipamento, não vamos poder usar mais computadores. A carga é de apenas duas horas - diz a diretora Marina Campos Kickinger, que ainda afirma que vem tendo dificuldades com o suporte técnico dos netbooks.
Mesmo com dificuldades, duas turmas da unidade já estão trabalhando com os computadores. Numa primeira etapa, professores e agora estudantes estão sendo capacitados. Como cada aluno tem o seu netbook, é possível até personalizá-lo.
Na rede estadual do Rio, apesar do alto investimento em tecnologia - com compra de mais de 50 mil laptops e implementação de um sistema que permite o controle de frequência e notas dos alunos de todas as escolas on-line -, o superintendente de Tecnologia da Informação da Secretaria estadual de Educação, Sérgio Mendes, admite que o uso pedagógico é mínimo:
- Esse é o grande desafio. Hoje, temos poucas escolas usando tecnologia para que os professores deem aulas melhores. Vamos avaliar essas iniciativas isoladas para ano que vem implementar um modelo.
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