12 de julho de 2011

Em ALagoas, jovens em meio a uma guerra


12 de julho de 2011
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Odilon Rios » Especial para O GLOBO MACEIÓ
"Não é difícil ter uma arma de fogo. Um cara que eu conheço me ofereceu uma, emprestada, para usar para qualquer coisa. Conheço outro que tem 15 anos e anda armado. Ninguém mexe com ele", diz R., 19 anos, num relato que não chega a surpreender no mais violento dos estados brasileiros, com 60,3 mortos por cem mil habitantes, índice de países em guerra civil, segundo a Organização Mundial de Saúde. Em Maceió, o número é ainda mais chocante: 251,4 por cem mil habitantes.
A cada dez mortos, sete são vítimas de armas de fogo. A maioria dos mortos é jovem, de 18 a 24 anos. E, entre as armas apreendidas na região metropolitana de Maceió em 2010, 15% estavam nas mãos de meninos de 11 a 15 anos.
- Chamou a atenção um menino que estudava em uma escola pública, tinha 11 anos e disse que tinha uma arma de fogo para se proteger. Agora, de quê? - indagou o comandante da polícia da capital, coronel Gilmar Batinga.
A Feira do Rato, no Centro de Maceió, é o endereço mais frequentado por quem quer comprar uma arma ilegalmente. Com R$30 adquire-se um revólver.
- Incrível o acesso a armas de fogo em Alagoas. Sou de Belo Horizonte, nunca vi nada igual - diz Célia Nonata, coordenadora de um grupo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) que traça o perfil do crime no estado. - O Estado faz vista grossa neste assunto. E o jovem está em uma cultura patriarcal, na qual existem a palavra e a honra para resolver o assunto.
Segundo ela, os índices sociais negativos engrossam o caldo cultural de violência. Alagoas lidera o número de analfabetos no país, tem o maior percentual de evasão escolar e a maior distorção idade-série:
- A educação não é um valor para os jovens. Então, existem hábitos menos racionais. O parâmetro não são a inteligência e o estudo, mas o jovem ser valente, encrenqueiro. Isso tem a ver com a cultura, a sociedade.

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