14 de julho de 2011

Tecnologia pública: ALEXANDRE HOHAGEN


14 de julho de 2011
 Novas Tecnologias | Folha de S. Paulo | Alexandre Hohagen | BR


Copiar o que o prefeito Michael Bloomberg fez em Nova York não é tarefa das mais complicadas

Voltei de Nova York nesta semana encantado com o trabalho que o prefeito Michael Bloomberg tem feito e com a visão desse homem de negócios em relação a como tecnologia e serviços públicos podem caminhar tão de perto.
Há mais ou menos um mês, o prefeito Bloomberg esteve em São Paulo para a C40, conferência das 40 grandes cidades preocupadas com temas de sustentabilidade.
Pouco antes de sua chegada ao Brasil, recebi dois convites pa- ra encontros com o prefeito nova-iorquino.
No primeiro, um jantar onde alguns convidados puderam ouvir sua visão, as ideias que ele tem para que grandes cidades sejam mais planejadas e sua obsessão por uma Nova York mais orgânica, limpa, com menos carros.
Falou muito do seu projeto High Line, que revitalizou antigo viaduto construído na década de 30.
A área, desativada e repleta de problemas há algumas déca- das, transformou-se no sonho dos nova-iorquinos.
Um parque suspenso, cheio de verde, com áreas de leitura, des- canso e o melhor: um dos meno- res índices de violência pelo sim- ples fato de estar sempre viva e cheia de gente.
No dia seguinte, fui ao encontro do prefeito Bloomberg em um de seus intervalos na conferência para que pudéssemos -aí, sim- falar de tecnologia, do crescimento da utilização da internet no Brasil e de como estávamos tratando o uso de novas ferramentas e das redes sociais para melhorar o dia a dia das grandes cidades.
Bloomberg me convidou então para conhecer de perto o NYC311.
O NYC311 é um projeto que concentra todo o atendimento das questões relacionadas à cidade de Nova York em uma grande rede social construída pela prefeitura.
Com ela é possível que a prefeitura escute, responda e dê dicas sobre qualquer tema relacionado à cidade, a seus moradores.
O NYC311 está presente no Skype, no Twitter, em aplicativos para iPhone, pode ser acessado pelo computador, pelo telefone.
Foi traduzido para nada menos que 50 diferentes idiomas e serve não apenas como uma forma de fornecer qualquer tipo de informação de responsabilidade do governo como também garantir um atendimento melhor aos cidadãos.
A grande sacada vai além do atendimento. O projeto foi cria- do para que haja a construção de uma base de inteligência por trás do serviço.
Com métricas e ferramentas apuradas, os dados coletados pelo serviço são capazes de indicar aos gestores da prefeitura se há algum problema específico na cidade, identificar tendências de mau funcionamento de vias, necessidade de mudanças de rota nas vias públicas etc.
Um dos serviços convida os moradores a reportar locais com ruído acima do normal durante a noite.
Bloomberg é um gestor brilhante que construiu um império baseado em serviços de informação.
Mas o que está fazendo em Nova York não será jamais indicado para um Prêmio Nobel de Economia.
O sr. prefeito tampouco será comparado a Thomas Alva Edison.
Ele simplesmente está aplicando tecnologias existentes de ma- neira totalmente pragmática pa- ra benefício dos moradores da "grande maçã".
Copiar o que o prefeito Bloomberg fez em Nova York não é tarefa das mais complicadas.
A questão é como priorizar todas as "demandas" dos nossos governantes com aquelas que podem proporcionar melhorias claras e rápidas à população.
As ferramentas estão aí.
O povo brasileiro é reconheci- damente aberto a adotar novas tecnologias.
E eu não tenho dúvidas de que qualquer pessoa apreciaria um esforço para melhorar a nos- sa cidade.
Por isso, fica aí a dica aos nossos prefeitos e demais governantes: vamos usar a tecnologia que já existe e a vontade política de melho- rar nossas cidades a serviço dos cidadãos?
ALEXANDRE HOHAGEN, 43, jornalista e publicitário, é responsável pelas operações do Facebook na América Latina. Em 2005, fundou a operação do Google no Brasil e liderou a empresa por quase seis anos. Escreve às quintas-feiras, a cada quatro semanas, nesta coluna.

Um comentário:

  1. O High Line NÃO é um projeto do Michael Bloomberg. A ONG friends of the highline foi criada em 1999 por Joshua David e Robert Hammond, quando a prefeitura queria demolir a linha férrea suspensa. Só em 2002 um "council" resolveu apoiar a ideia, quando o movimento já tinha ganho peso. A iniciativa foi da população organizada. Dá pra ver toda a história aqui: http://www.thehighline.org/about/high-line-history

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