Diario de Minas, 29 de setembro, 2012
Importante rever e atualizar leis de regulamentação da publicidade infantil brasileira e pesquisar os impactos e riscos da exposição exagerada
Importante rever e atualizar leis de regulamentação da publicidade infantil brasileira e pesquisar os impactos e riscos da exposição exagerada
Vivina do C. Rios Balbino - Psicóloga, mestre em educação, professora da Universidade Federal do Ceará e autora do livro Psicologia e psicologia escolar no Brasil
A tecnologia moderna permite hoje acesso e interação rápida em múltiplas mídias, como a TV, internet, celulares, tablets e jogos eletrônicos. Essas novas tecnologias têm colocado crianças em contato muito cedo com o mundo adulto. Dessa forma, imitam o que veem e acabam incorporando características e hábitos de adultos. Pesquisa recente com 3,5 mil adolescentes na Universidade de Yale, nos EUA, mostrou que um em cada 25 jovens mostra correlação entre alto uso de internet e casos de depressão, uso de drogas e comportamentos agressivos. Pesquisas mostram também alta ligação entre propagandas de bebidas e maior consumo do produto por adolescentes. Dados recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS) alertam para a correlação entre o uso excessivo de celular e a maior incidência de câncer, especialmente no cérebro. Espantosamente, o Brasil tem mais de 207,5 milhões de assinantes de telefonia celular. Quantas crianças estariam nessa estatística?
De um modo geral, as crianças estão cedo substituindo comportamentos e hábitos infantis por brinquedos eletrônicos e outros modismos. Lojas e fábricas percebem essa mudança e modelos infantis são criados. Muitas mães e pais espelham em seus filhos seus próprios gostos e colocam roupas e acessórios como se crianças já estivessem na adolescência. Pelo machismo ainda vigente, mulheres precisam se enfeitar e as meninas são as mais afetadas. O uso de esmalte, batom, sombra, sapatinhos de salto, bolsa e penteados nas meninas tem sido normal. Com todos esses acessórios e modismos o visual de muitas meninas parece de adulto. A adolescência tem chegado mais cedo para meninos e meninas de 8 a 10 anos. Diante dessa situação é cada vez mais comum pais e educadores recorrerem ao auxílio de psicólogos na educação de suas crianças.
O mundo moderno impõe às famílias muitos desafios sociais até então desconhecidos. Um exemplo é monitorar a internet dos filhos. A estrutura familiar e relação parental também passam por grandes transformações. A mulher entrou para o mercado de trabalho, reivindica igualdade de direitos com o homem, requer mais participação do pai, há alto índice de separações conjugais distanciando pais de seus filhos, além de mudanças nas práticas educacionais. Punições deram lugar ao diálogo e estabelecimentos de limites. Liberdade sexual e mídia erotizada predispõem múltiplos parceiros sexuais casuais e gravidez precoce e/ou indesejada. Os índices de abusos sexuais, pedofilia, exploração sexual infantil, estupros e morte de crianças são alarmantes no Brasil.
Como lidar com esses complexos problemas exatamente na fase de desenvolvimento quando personalidades são estruturadas? Que tipo de adulto estamos educando e até que ponto a mídia tem incentivado todas essas mudanças perturbadoras? Como estabelecer limites? Precisamos regulamentar melhor a nossa mídia infantil? Segundo a pesquisadora Inês Vitorino, da Universidade Federal do Ceará, nosso país está muito atrasado em relação a outros países quando o assunto é política de regulação no campo da publicidade infantil. Ela coordena o grupo de pesquisa da relação entre infância, adolescência e mídia no Brasil. A especialista acredita que é preciso haver maior reflexão e mobilização da sociedade brasileira para exigir leis que protejam crianças e adolescentes dos "efeitos nocivos" que o marketing direcionado a elas tem.
Segundo a pesquisadora, as propagandas voltadas para crianças são em geral abusivas, porque utilizam estratégias de persuasão, e elas não são capazes ainda de identificar os riscos. Ela cita o caso da Alemanha, onde toda a publicidade é dirigida aos pais e não há qualquer publicidade nos horários infantis. Em Québec, no Canadá, e na Suécia, a publicidade infantil é inteiramente proibida. São países de tradição democrática, mas optaram pelo princípio norteador de que crianças não têm clareza do conteúdo persuasivo. Penso ser fundamental que a sociedade civil e especialmente os pais, educadores e psicólogos estejam mobilizados para os riscos da liberação da publicidade infantil. Importante rever e atualizar leis de regulamentação da publicidade infantil brasileira e pesquisar os impactos e riscos dessa exposição exagerada.
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