Crescimento em agosto ocorreu também em outros índices, como latrocínio e estupro, mostram as estatísticas
Capital paulista foi uma das que tiveram maior alta; governo nega que Estado passe por nova escalada da violência
AFONSO BENITES
ANDRÉ CARAMANTE
DE SÃO PAULO, Folha de S.Paulo, 26/9/2012
Após apresentar queda no mês de julho, o Estado de São Paulo voltou a registrar alta nos homicídios dolosos (intencionais). Houve crescimento também na capital paulista.
O aumento no Estado foi de 8,6% em comparação com agosto de 2011 e de 6,3% se analisado o acumulado nos oito primeiros meses do ano.
Na cidade de São Paulo, o crescimento foi maior: 15,2 % em agosto e 15,4% no acumulado do ano.
Os dados constam das estatísticas da Secretaria da Segurança divulgadas ontem.
No mês passado foram registrados 391 homicídios dolosos no Estado, com 417 vítimas -em uma ocorrência pode haver mais de uma pessoa morta. Em todo o ano, foram 2.924 registros, com 3.109 vítimas.
Apesar dessa alta, a quarta do ano no Estado, o governo nega que São Paulo esteja passando por uma nova escalada da violência.
Em junho, quando a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) admitiu essa preocupação com o aumento na criminalidade, morriam em média 14 pessoas por dia no Estado. Em agosto, foram 13 mortes diárias, o segundo maior índice do ano.
"Já tivemos quedas sensíveis nos indicadores criminais. O problema é que vivemos numa sociedade violenta e precisamos melhorar a qualidade da investigação para punir os criminosos e mostrar que o crime não compensa", disse o chefe da Polícia Civil, delegado Marcos Carneiro Lima.
O recrudescimento da violência ocorreu também em outros índices criminais. Os principais foram latrocínio (roubo seguido de morte), que teve um aumento de 71,4%, e estupro, 31%.
"Nas últimas décadas São Paulo reduziu consideravelmente seus homicídios. Mas, agora, parece ter estabilizado essa queda. Isso mostra que a política de segurança precisa ser revisada", disse o presidente da comissão de segurança do IBCCRIM (Instituto Brasileiro de Ciências Criminais), Renato De Vitto.
Dos 17 tipos de crime divulgados ontem pelo governo, apenas roubo (-4,8%), homicídio culposo (-7,1%) e roubo a banco (-52%) tiveram redução no Estado.
A cidade de São Paulo foi uma das que tiveram maior alta na criminalidade. De todos os índices divulgados, apenas latrocínio, roubo e roubo a banco tiveram redução.
O que mais preocupou as autoridades foi o aumento dos homicídios dolosos.
"Não dá para atribuir o aumento do homicídio a uma só causa. Pode ser desde briga de bar até uma reação ao crime. Tudo precisa ser analisado", afirmou De Vitto.
Variação está dentro do patamar aceitável, afirma delegado-geral
DE SÃO PAULO
O chefe da Polícia Civil de São Paulo, Marcos Carneiro Lima, disse que o aumento de 8,6% dos homicídios no Estado e de 15,2% na capital paulista está dentro da margem considerada "aceitável".
"Essa mudança está dentro do patamar de oscilação, que é previsível. Vivemos numa sociedade com 40 milhões de seres humanos e qualquer coisa pode resultar numa tragédia", disse.
Na avaliação dele, a variação inaceitável só resultaria de um atentado terrorista, no qual centenas de pessoas morressem ao mesmo tempo.
"Você pode considerar fora do patamar quando mais de cem pessoas morrem por envenenamento da água."
Ainda assim, ele reafirma que o objetivo do governo é chegar a uma taxa inferior a 10 homicídios por 100 mil habitantes. Hoje, o índice é de 10,37, conforme o governo.
Para atingir essa meta, até o fim do ano, 200 novos delegados passarão a trabalhar no Estado. Eles estão concluindo o curso de formação e deverão atender nas centrais de flagrantes.
O extremo sul da cidade, onde 34% dos moradores deram nota zero à segurança, foi responsável por 30,8% das vítimas de homicídio em ocorrências registradas de janeiro a agostoMARCELO SOARES
DE SÃO PAULO
Mais da metade dos homicídios registrados na cidade de São Paulo ocorre nas duas regiões onde, de acordo com o "DNA Paulistano", moradores dão a pior avaliação às condições de segurança.
A pesquisa, que vem sendo publicada pela Folha em cadernos dominicais ao longo deste mês, é um raio-X das preocupações da população em todas as regiões.
O extremo sul da cidade, onde 34% dos entrevistados deram nota zero à segurança, foi responsável por 30,8% das vítimas de homicídio em ocorrências registradas entre janeiro e agosto deste ano, segundo o governo do Estado.
O extremo leste, onde 32% dos moradores deram nota zero à segurança, concentrou 25,7% das vítimas de assassinato nesse mesmo período.
A contagem de corpos, porém, aumentou um pouco menos nessas regiões do que no total do município.
Em São Paulo, o número de vítimas de homicídio subiu 17% nos oito primeiros meses deste ano em comparação com igual período do ano passado -717 para 839.
Já no extremo sul do município, o aumento foi de 10,3%, enquanto no extremo leste a variação chegou a 14,9% -aqui, o aumento percentual é mais que o dobro do registrado no Estado no período.
PERCEPÇÃO SUBJETIVA
Embora os dados digam respeito às delegacias, e não aos bairros, a contagem foi feita a partir das divisões regionais que mais se aproximam da divisão dos bairros.
De acordo com a pesquisa, 16% dos moradores do extremo leste informaram ter tido parentes ou amigos assassinados nos últimos 12 meses.
No extremo sul, foram 13% -pouco mais alto do que a média da cidade, embora a região responda por mais assassinatos nos registros de ocorrência do governo.
Em Cidade Tiradentes, onde 24% dos moradores disseram na pesquisa ter tido algum parente assassinado nos últimos 12 meses, o número de mortos registrados no 54º DP (Cidade Tiradentes) entre janeiro e agosto aumentou 50% -de 10 para 15.
Nem sempre a percepção subjetiva de insegurança, detectada em pesquisas de opinião, coincide com as estatísticas de segurança.
O cruzamento dos dois números, porém, é ferramenta poderosa para debater o tema indo além de propostas criadas por marqueteiros para o horário eleitoral
ANÁLISE VIOLÊNCIA
Estatísticas refletem sensação de insegurança
Mais da metade dos assassinatos está nas regiões que dão pior avaliação à segurança, segundo o 'DNA Paulistano'O extremo sul da cidade, onde 34% dos moradores deram nota zero à segurança, foi responsável por 30,8% das vítimas de homicídio em ocorrências registradas de janeiro a agostoMARCELO SOARES
DE SÃO PAULO
Mais da metade dos homicídios registrados na cidade de São Paulo ocorre nas duas regiões onde, de acordo com o "DNA Paulistano", moradores dão a pior avaliação às condições de segurança.
A pesquisa, que vem sendo publicada pela Folha em cadernos dominicais ao longo deste mês, é um raio-X das preocupações da população em todas as regiões.
O extremo sul da cidade, onde 34% dos entrevistados deram nota zero à segurança, foi responsável por 30,8% das vítimas de homicídio em ocorrências registradas entre janeiro e agosto deste ano, segundo o governo do Estado.
O extremo leste, onde 32% dos moradores deram nota zero à segurança, concentrou 25,7% das vítimas de assassinato nesse mesmo período.
A contagem de corpos, porém, aumentou um pouco menos nessas regiões do que no total do município.
Em São Paulo, o número de vítimas de homicídio subiu 17% nos oito primeiros meses deste ano em comparação com igual período do ano passado -717 para 839.
Já no extremo sul do município, o aumento foi de 10,3%, enquanto no extremo leste a variação chegou a 14,9% -aqui, o aumento percentual é mais que o dobro do registrado no Estado no período.
PERCEPÇÃO SUBJETIVA
Embora os dados digam respeito às delegacias, e não aos bairros, a contagem foi feita a partir das divisões regionais que mais se aproximam da divisão dos bairros.
De acordo com a pesquisa, 16% dos moradores do extremo leste informaram ter tido parentes ou amigos assassinados nos últimos 12 meses.
No extremo sul, foram 13% -pouco mais alto do que a média da cidade, embora a região responda por mais assassinatos nos registros de ocorrência do governo.
Em Cidade Tiradentes, onde 24% dos moradores disseram na pesquisa ter tido algum parente assassinado nos últimos 12 meses, o número de mortos registrados no 54º DP (Cidade Tiradentes) entre janeiro e agosto aumentou 50% -de 10 para 15.
Nem sempre a percepção subjetiva de insegurança, detectada em pesquisas de opinião, coincide com as estatísticas de segurança.
O cruzamento dos dois números, porém, é ferramenta poderosa para debater o tema indo além de propostas criadas por marqueteiros para o horário eleitoral
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