"concordo Hëlio!"
28/9/2012, Folha de S.Paulo
SÃO PAULO - O Colégio Rio Branco, uma das mais tradicionais escolas particulares de São Paulo, instalou câmeras de vigilância nas salas de aula. Até onde devemos avançar na utilização de tecnologias de monitoramento? Esse é o melhor teste para distinguir consequencialistas, isto é, aqueles espíritos essencialmente pragmáticos, dos deontologistas, os partidários de éticas do dever.
E o grande problema com as câmeras, como observou o filósofo Emrys Westacott, é que elas funcionam. Sua mágica é que fazem com que a obrigação coletiva (o cumprimento de regras) e o interesse próprio (não ser apanhado), que muitas vezes andam separados, coincidam. É só acionar uma dessas engenhocas que as pessoas começam a se comportar melhor. Como ser contrário a isso?
Essa é uma missão para Immanuel Kant. Para o filósofo prussiano, um homem pode fazer a coisa certa ou por temer a sanção ou por reconhecer a racionalidade por trás da norma. Só na segunda hipótese ele age de forma moral e livre. É só aí que ele se constitui como sujeito autônomo.
Avançando um pouco mais no raciocínio kantiano-westacottiano, as câmeras, ao jogar o interesse para o mesmo lado da obrigação, na verdade nos privam da liberdade de fazer o que é certo, isto é, impedem nosso crescimento como agentes morais.
O dilema não tem solução, ou melhor, a resposta muda conforme o contexto. A maioria de nós tende a ser favorável à colocação de câmeras em lugares públicos de grande afluxo de pessoas, como aeroportos e prisões, já que elas melhoram bastante a segurança. Mas não aderimos tão entusiasmadamente a elas em situações mais privadas, como o quarto conjugal ou, de forma menos dramática, o ambiente de trabalho. E a razão, creio, é que prezamos a ideia de aprimoramento moral. Eu pelo menos, apesar de minhas inclinações consequencialistas, hesitaria em matricular meus filhos numa escola sob vigilância perpétua.
Nenhum comentário:
Postar um comentário