28 de setembro de 2012

Ação afirmativa melhora universidades'


Folha de S.Paulo, 28/9/2012

Reitora da Universidade de Michigan, em visita ao Brasil, diz que ambiente diverso prepara melhor os estudantes
Defensora de cotas, ela lida com proibição da estratégia em seu Estado e busca estreitar elos com ciência do Brasil
Eric Bronson/Universidade de Michigan
A bioquímica Mary Sue Coleman, 68, reitora da Universidade de Michigan há dez anos
A bioquímica Mary Sue Coleman, 68, reitora da Universidade de Michigan há dez anos
RAFAEL GARCIA
EM WASHINGTON
Uma instituição pioneira em adotar políticas de ação afirmativa nos EUA está interessada no Brasil. Mary Sue Coleman, reitora da Universidade de Michigan, veio ao país nesta semana para discutir acordos de colaboração internacional.
A bioquímica de 68 anos está visitando instituições brasileiras como a USP, a Unicamp e a UFRJ.
À frente de uma universidade que tentou implementar um sistema de vestibular para favorecer negros, latinos e indígenas, a cientista se declara "fervorosa" defensora das políticas de inclusão. Ela falou à Folha por telefone antes de vir ao país.
Folha - A sra. vem ao Brasil para discutir acordos de colaboração. Qual a importância de uma reitora se envolver nesse tipo de iniciativa?
Mary Sue Coleman - Acreditamos que o engajamento global é um pilar da excelência. O conhecimento não tem fronteiras, e pessoas têm boas ideias em qualquer lugar do mundo.
O que eu descobri ao longo do tempo é que, quando acompanho uma delegação -estive na África, na China e agora vou ao Brasil-, isso estimula todos os tipos de interesse no campus.
Que áreas de pesquisa a sra. considera interessantes para a colaboração com o Brasil?
Há várias. Já temos em andamento alguns trabalhos muito bons na área médica, interagindo com a Faculdade de Medicina da USP. Há trabalhos sobre câncer adrenal e tecnologias de reprodução e fertilização in vitro.
Estamos muito interessados também no programa brasileiro de banco de leite materno, que é avançado. Estamos começando a fazer isso aqui, e estou empolgada para aprender com aquilo que funcionou no Brasil.
A Universidade de Michigan está recebendo estudantes brasileiros do programa Ciência Sem Fronteiras. O programa traz alguma contrapartida interessante para vocês?
Acabamos de assinar um acordo bilateral para ampliar a participação no Ciência Sem Fronteiras. Acredito que é um investimento muito ousado e interessante por parte do governo e realmente admiro o que o Brasil está fazendo com relação a isso.
Cerca de 25% dos nossos estudantes têm experiência internacional quando estão na graduação, e o que queremos fazer é elevar isso para 50%. Temos muitos estudantes interessados em obter essa experiência, sobretudo nas partes do mundo nas quais a economia está se desenvolvendo muito rápido, como o Brasil.
A sra. é reconhecida defensora das políticas de ação afirmativa, que estão sendo implantadas só agora no Brasil. Como isso vem funcionando em Michigan?
A Universidade de Michigan sempre esteve na linha de frente dessa batalha, e acreditamos fervorosamente nos benefícios da ação afirmativa. Pesquisas nessa área mostram que uma sala de aula diversificada -com pessoas vindas de diferentes contextos, classes sociais e etnias- é um ambiente educacional melhor.
Além de os estudantes saírem preparados para trabalhar numa sociedade multicultural, é possível abrir a universidade para quem não tem acesso a ela.
No entanto, o Estado de Michigan, infelizmente, passou uma emenda constitucional proibindo ações afirmativas. Não posso mais adotá-las aqui, mas outras universidades nos EUA podem.
Mesmo assim, temos grandes programas de extensão e preparação para encorajar estudantes sub-representados, oriundos de diferentes contextos raciais, a virem para a universidade. Estou fascinada pelo debate em andamento no Brasil.

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