Folha de S.Paulo, 29/9/2012
RIO DE JANEIRO - CDs, DVDs, câmeras digitais, telefones fixos, controle remoto e até PCs de mesa com teclado, mouse e disco rígido -pelo que li há dias no "Globo", tudo isso tende a ser história nos próximos anos. Por história, entenda-se o grande lixão a que se destinam os cadáveres da eletrônica. Parece que, na próxima década, só os maiores de 30 anos ainda terão uma vaga lembrança de para que serviam esses equipamentos, aos quais ficamos hoje atracados o dia inteiro. A ideia é a de que as mídias físicas, palpáveis, irão literalmente para o espaço. Tudo estará na chamada "nuvem" -que, até agora, ninguém conseguiu me explicar onde fica, como funciona e se fecha quando chove. O acesso aos conteúdos se dará por smartphones, downloads ou com o usuário plantando bananeira contra a parede e se concentrando. A "nuvem" é infinita e conterá tudo que puder ser exibido, alugado, vendido, emprestado ou copiado, e isso dispensará as cidades de manter museus, galerias, cinemas, bibliotecas, livrarias, sebos, arquivos públicos etc. Quer dizer, os acervos destes continuarão existindo, mas "na nuvem", sem despesas com funcionários, material de limpeza ou energia elétrica. Cá entre nós, não estou com a menor pressa de aderir à "nuvem". Ainda gosto de manusear, apalpar, acariciar. Hoje, por exemplo, minha coleção de LPs, em edições raras, originais, lindíssimas, é a melhor que já tive (vitrolas e agulhas não faltam -estou estocado). O mesmo quanto às coleções de CDs e DVDs que acumulei -só espero que não interrompam logo a fabricação dos aparelhos para tocá-los. E continuo a frequentar sebos, bibliotecas e arquivos -gosto até do cheiro de mofo. Meu consolo é que, um dia, quando tudo isso tiver acabado e só estiver disponível na "nuvem", eu também estarei nas proximidades -em alguma nuvem. |
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