26 de setembro de 2012

Alunos do Rio Branco são suspensos após protesto contra câmeras na sala


Mi opinión?: "Instalar cámaras en las salas de aula esta errado, Jorge Werthein"

Folha de S.Paulo, 26/9/2012
Tradicional colégio de Higienópolis, em São Paulo, puniu 107 estudantes do ensino médio
Direção da escola diz que pretende aumentar segurança e melhorar disciplina das turmas; mães apoiam medida

Reprodução
Estudantes fazem protesto após a instalação das câmeras
Estudantes fazem protesto após a instalação das câmeras
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
BRUNO BENEVIDES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um dos mais tradicionais colégios de São Paulo, o Rio Branco decidiu instalar câmeras de segurança dentro das salas de aula, o que causou protesto dos estudantes -107 deles foram suspensos.
A direção da escola, localizada em Higienópolis (centro), diz que pretende aumentar a segurança na instituição. E, indiretamente, melhorar a disciplina das turmas.
A escola foi fundada em 1946 e cobra mensalidades de R$ 1.900 no ensino médio.
Os estudantes não foram avisados da mudança e dizem que ficaram assustados com os equipamentos. E afirmam que protestaram porque não receberam explicações.
Anteontem, após notarem as câmeras, estudantes do ensino médio decidiram ficar sentados no pátio, até que a diretora se manifestasse -o que não ocorreu.
Depois, os pais de 107 estudantes foram informados que os alunos haviam sido suspensos por um dia.
"Ficamos assustados com as câmeras, ninguém explicou o motivo. Mas o pior foi a suspensão e a falta de diálogo", disse um estudante, que não quis se identificar.
A instalação das câmeras e a suspensão dividiu a opinião dos educadores ouvidos pela Folha.
SEGURANÇA
Responsável por fiscalizar os colégios particulares, a Secretaria de Estado da Educação informou não ter conhecimento de lei que proíba a instalação das câmeras.
A diretora do colégio, Esther Carvalho, diz que os equipamentos serão instalados em todas as salas, do ensino fundamental ao superior.
O objetivo principal, afirma, é zelar pelo patrimônio dos alunos e do colégio, apesar de não haver registro de furtos ou violência nas salas.
Segundo a diretora, as câmeras poderão inibir também a indisciplina das turmas.
Sobre a suspensão, ela afirmou que os estudantes realizaram protestos três vezes em um período de três semanas. Os alunos disseram que recorrem ao artifício por não serem ouvidos na instituição.
Folha conversou com quatro mães de alunos do ensino fundamental do colégio. Todas apoiaram a instituição.
"Dentro da escola acontece muita coisa em que fica a versão de um contra outro. Agora poderemos saber", afirmou Cristiane Fittipaldi.


FRASES
"Num presídio, entendo a necessidade de câmeras. Numa escola, não. A segurança e a disciplina podem até melhorar, mas o aluno não vai seguir as regras porque acredita nelas"
SILVIA COLELLO
pesquisadora da Faculdade de Educação da USP
"A instalação das câmeras é legítima, todos sentimos falta de segurança. E vai ajudar a diminuir a indisciplina e até o bullying. [Sobre a suspensão], a escola fez bem, porque os alunos foram tiranos"
QUÉZIA BOMBONATTO
presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia
"Sou a favor de que os alunos possam se manifestar sobre qualquer coisa, desde que não quebrem nada nem machuquem ninguém. Sou contrário a uma câmera dentro da sala de aula. Acho que o excesso de vigilância traz um mínimo de confiança"
DAN STULBACH, 43
ator, estudou no colégio Rio Branco de 1976 a 1986
"Não vejo problemas, desde que o uso das imagens seja restrito a hipóteses realmente importantes, e não para ficar vigiando quem jogou bolinha de papel no coleguinha..."
RODRIGO VENTIN SANCHES, 33
advogado, estudou no colégio de 1983 a 1995
"Em princípio, não vejo com bons olhos essa forma de controle em sala de aula. Penso que pode comprometer a autonomia do professor, além de infantilizar os alunos que, no limite, sempre estarão sob o controle dos pais"
ANDRÉ MOUNTIAN, 34
professor universitário, estudou no colégio de 1985 a 1995



ANÁLISE
Uso de câmeras em sala de aula deve ser justificado e aceito pela maioria
MARIA IRENE MALUF
ESPECIAL PARA A FOLHA
Vemos hoje em muitos ambientes públicos que a utilização de câmeras tem aumentado bastante, principalmente visando a segurança das pessoas.
Isso já não causa espanto nem constrangimento.
Da mesma forma, é comum encontrarmos sistemas de monitoramento nos corredores, nos pátios, nas entradas e saídas de várias escolas, tanto para preservar a segurança do local como para supervisionar o comportamento dos alunos.
Enquanto visíveis e com finalidade clara e legítima, esses dispositivos não trazem problemas a ninguém, pois o aspecto intrusivo acaba por ser deixado de lado frente aos evidentes benefícios que agregam.
Entretanto, a utilização de câmeras dentro de sala de aula regular, do ensino fundamental ao médio, diferentemente do uso dessa tecnologia em berçários -quando os pais desejam mesmo à distância cuidar dos filhos ainda muito pequenos-, exige uma reflexão maior entre os familiares, eventualmente os alunos e a direção da escola.
A razão desse cuidado deve ser previamente justificada e aceita pela maioria, para não se criar constrangimento tanto para os estudantes quanto para os professores, que, afinal, se imagina sejam pessoas responsáveis e profissionais capacitados capazes de dar conta de tudo o que ocorre na sua classe, como tem sido até o momento.
MARIA IRENE MALUF é especialista em psicopedagogia e educação especial e editora da revista "Psicopedagogia" da ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia)




Alunos dizem que foram 'presos' no pátio

Segundo os manifestantes, as portas que dão acesso às salas de aula estavam trancadas

25 de setembro de 2012 | 
Luís Lima, especial para o Estadão.Edu
Protesto contra câmeras reuniu cerca de 130 alunos da 3ª série do Rio Branco - Arquivo pessoal
Arquivo pessoal
Protesto contra câmeras reuniu cerca de 130 alunos da 3ª série do Rio Branco
Alunos do Colégio Rio Branco rebateram o argumento da diretora da escola, Esther Carvalho, de que os 107 alunos estudantes suspensos hoje foram punidos por terem faltado à aula durante protesto contra a instalação de câmeras em salas. Eles disseram ter sido "presos" no pátio. "Nem se quiséssemos voltar às salas de aula poderíamos. Trancaram as portas laterais, colocaram seguranças nas escadas e fomos obrigados a ficar lá", diz um aluno que prefere não se identificar.
A diretora afirma que não havia saídas trancadas. Segundo Esther, os alunos sentaram em frente às portas corta fogo do pátio e impediram o fluxo de pessoas no local. "Por esse motivo, abrimos as portas laterais, possibilitando a todos que pudessem voltar às aulas." Esther acrescenta que muitos alunos retornaram às salas de aula, e explica que suspendeu os alunos que não assinaram as listas de presença distribuídas nas duas últimas aulas da manhã.
"A revolta foi unicamente uma forma de alertar a instituição e a própria diretoria de que não aguentamos mais um ambiente onde a escola se faz de surda aos alunos", disse uma aluna, que também pediu para não ser identificada. Em e-mail enviado à reportagem, ela disse que os alunos já se mobilizaram pela redução dos preços cobrados na cantina, pelo fim das chamadas orais surpresa e denunciaram "situações recorrentes de bullying e cyberbullying".
A diretora disse que, nas últimas semanas, passou em todas as salas do colégio para ouvir as reclamações dos alunos em relação à situação geral da instituição. Ela ressalta que os canais de comunicação com os estudantes, como a secretaria de orientação educacional, sempre estiveram abertos. 





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