"Infância Clandestina", de Benjamin Ávila, conta história de família que volta ao país para lutar contra militares
Longa com roteiro de brasileiro foi escolhido pela Argentina para tentar vaga no Oscar do ano que vem
Os anos de chumbo da última ditadura militar argentina (1976-1983) estavam em um de seus momentos mais sangrentos, em 1979, quando um grupo de jovens idealistas resolveu apostar numa sangrenta estratégia suicida.
Exilados em países como México e Cuba, centenas de montoneros (guerrilheiros de esquerda) decidiram, então, voltar à Argentina e iniciar uma série de atentados para tentar pôr fim ao regime.
A "contraofensiva" deu errado, a maioria dos montoneros envolvidos foi presa e morta. Uma delas era a mãe de Benjamin Ávila, 40, a quem "Infância Clandestina", que estreia hoje, é dedicado.
"Não se trata de um filme totalmente autobiográfico, mas muito do que vivi e senti está aí", diz o diretor argentino em entrevista.
Sua história está representada no filme pelo garoto Juan (Téo Gutiérrez). Aos 12, ele retorna à Argentina depois de acompanhar os pais no exílio. A família tem de viver sob um pesado disfarce que, entre outras coisas, o obriga a mudar de nome e a comemorar o aniversário num outro dia.
Juan, a princípio inocente, vê a movimentação das reuniões secretas em sua casa e as discussões sobre política.
Na escola, canta o hino e louva a bandeira "dos milicos". Aos poucos, se dá conta de que a batalha de seus pais, apesar de nobre e romântica, mais parece um delírio e que as coisas não vão acabar bem.
"A questão do ponto de vista era uma obsessão. Como mostrar o olhar puro de um menino diante das paixões políticas dos adultos e dos assassinatos? Como retratar um processo de tomada de consciência numa idade tão especial?"
Há personagens que ajudam o garoto a entender o que se passa. Uma é a avó, que tem de aparecer vendada para visitar o neto e que questiona duramente a mãe por estar envolvendo os filhos numa perigosa utopia. Outro é Tio Beto, também guerrilheiro, que abre seus olhos para o lúdico da vida.
ATUALIDADE
Ao mostrar um olhar crítico sobre a luta dos montoneros, Ávila questiona o próprio relato do atual governo argentino, que insiste em heroicizar os guerrilheiros.
"Não quis atacar diretamente o governo, mas o filme questiona um discurso maniqueísta muito instalado sobre a suposta divisão da sociedade entre bons e maus. É um filme que pergunta se fazia sentido toda aquela violência, dos dois lados."
"Infância Clandestina" é uma coprodução entre Argentina, Brasil e Espanha. O roteiro é do brasileiro Marcelo Müller e a produção executiva, de Luis Puenzo, vencedor do primeiro Oscar ganho pela Argentina, em 1985, por "A História Oficial". O filme de Ávila foi escolhido para disputar vaga no Oscar de 2013.
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