Folha de S.Paulo, 7/12/2012
Incapacidade dos EUA em lidar com crise fiscal é uma fraqueza, mas não uma prova de declínio irreversível
O debate sobre uma possível catástrofe fiscal, que pode estar iminente nos Estados Unidos, torna fácil presumir que o país está em declínio. A incapacidade da superpotência para lidar de maneira rápida e efetiva com a crise fiscal claramente representa uma fraqueza.
Mas usar esse problema como prova final de que os EUA estão em declínio irreversível é um erro.
Na realidade, eles continuam fortes e -o que importa ainda mais- continuam mais fortes do que todos os seus rivais. A economia americana continua a ser a mais rica e a mais produtiva entre as grandes economias mundiais. É três vezes maior que a da China, por exemplo.
Os EUA continuam a ser um dos dez países mais competitivos do mundo, um dos cinco melhores lugares para fazer negócios e um dos destinos mais atrativos para o capital dos investidores internacionais.
De todas as economias avançadas que passaram pelo "crash" de 2008, a americana teve a mais rápida recuperação. E o país está passando por um boom no setor de energia...
Novas tecnologias ampliarão a produção de petróleo e gás natural e reduzirão a dependência do país com relação à energia importada.
Entre 2010 e 2015, as importações de energia cairão de 49% para 36% do consumo interno total, e os EUA se tornarão exportadores de gás natural. Em 2017, o país será o maior produtor mundial de petróleo, superando Arábia Saudita e Rússia.
O Citigroup calcula que, nos próximos sete anos, o boom americano do petróleo e gás natural possa criar entre 2,7 milhões e 3,6 milhões de empregos novos, elevando o PIB real em 2% a 3% e reduzindo o deficit em conta corrente em 60%.
E há também o efeito iPad: a inovação. Embora os EUA respondam por apenas 5% da população mundial, originam 28% das patentes concedidas no mundo e abrigam 40% das universidades de pesquisa mais conceituadas do planeta.
A despeito dos problemas do regime de imigração, os EUA seguem sendo o destino preferencial dos profissionais mais capacitados do mundo.
Por fim, a população americana é mais jovem, tem mais crianças e está crescendo mais rápido, via imigração, do que a dos demais países avançados e da China.
Nos próximos 20 anos, a força de trabalho do país deve crescer em 17%, enquanto a das demais economias avançadas crescerá 1%. Na China, a população em idade de trabalho deve cair pouco mais de 1%.
Isso é uma vantagem, porque expande as dimensões do mercado interno americano e implica que existam mais trabalhadores para sustentar as crianças e os idosos.
Nas próximas décadas, os mercados emergentes devem crescer duas a três vezes mais rápido que os dos países avançados e responder por mais de metade da classe média mundial, adicionando mais de 1 bilhão de potenciais compradores para os produtos dos EUA.
Os Estados Unidos precisam superar diversos obstáculos antes que possam explorar ao máximo o seu potencial. Mas nenhum outro país ocupa posição melhor para se beneficiar das mudanças econômicas, demográficas e sociais que estão dando forma nova ao planeta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário