O Rio adotou tarefas próprias de uma escola tradicional, que significam um passo atrás, com o objetivo de dar um salto de qualidade
Relatório da pesquisadora Mona Morshed demonstra que os sistemas educacionais têm tarefas distintas, dependendo do estágio de evolução em que se encontram. O que é necessário para a Coreia ou a Finlândia, nações com excelentes resultados no Pisa (teste internacional de qualidade da educação), é diferente do que deve ser feito pelo Brasil, que ocupa o 53º lugar entre 67 países que dele participam.
Segundo Morshed, depois de ter avançado ao priorizar a educação, caberia à Coreia descentralizar para fomentar maior criatividade e inovação. No caso brasileiro, ainda faltaria um grande projeto nacional, com um currículo preciso, critérios claros de formação e certificação de professores e melhora na alfabetização, na interpretação de textos e no raciocínio matemático.
No Rio de Janeiro, não é diferente. Assim, decidimos implantar um projeto de transformação que passasse por dois movimentos aparentemente contraditórios: voltar ao básico e, ao mesmo tempo, abrir caminho para a inovação.
Inicialmente, estabelecemos um currículo básico e claro. Docentes do município criaram um material estruturado para uso de seus pares. Definimos que nossa rede alfabetiza aos seis anos e preparamos nosso próprio livro de alfabetização.
Ao final de cada bimestre, há provas unificadas, para que cada escola perceba sua evolução em relação à média da rede. Para alunos que aprendem em ritmos diferentes, criamos um sistema de reforço escolar. E aperfeiçoamos a seleção de professores, com prova didática e uma escola de formação.
Essas tarefas, próprias de uma escola tradicional, significam um passo para trás para que se possa dar um salto na qualidade. Ao mesmo tempo, é preciso inovação, para não termos uma escola que forma adequadamente para o século 19!
Nesse sentido, criamos um portal de aulas digitais, a Educopédia, feita pelos professores para seus colegas. Essas aulas, que seguem o currículo e podem ser projetadas em sala, contêm material para a preparação do professor, uma apresentação em slides, vídeos e jogos. O professor é livre para decidir se e como quer usar o portal.
Outra inovação envolve a criação de novos modelos de escola, como os ginásios experimentais. São escolas de tempo integral de sétimo a nono ano, com ênfase em excelência acadêmica, onde o aluno é convidado a elaborar seu projeto de vida futura. Protagonismo juvenil, como clubes de ciências, grupo de teatro ou grêmios, completa a proposta.
O Ginásio Experimental de Novas Tecnologias, o Gente, foi lançado neste ano para personalizarmos o processo de aprendizado, sem perder a ideia de cooperação. Nele, o uso do portal se dá pelos alunos, que podem avançar ou ir mais devagar de acordo com seu próprio ritmo. O professor atua como mediador e coordenador da aprendizagem individual e coletiva.
O que faz com que esses experimentos não virem ilhas de excelência numa rede estagnada é justamente a agenda anterior: todas as escolas têm o mesmo currículo básico como referência, o mesmo portal de aulas digitais e uma ênfase grande em formação de professores. Afinal, são eles que, em cada escola, transformam a educação!
CLAUDIA COSTIN, 57, é secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro
Folha de S.Paulo, 21/6/2013
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