RIO DE JANEIRO - Uma pesquisa entre os participantes das passeatas contra a ditadura nos anos 60 --se a ideia tivesse ocorrido ao Ibope-- revelaria que 90% eram universitários, moravam sozinhos e usavam seu próprio aparelho de barbear. Os outros 10% eram secundaristas --equivalentes aos que hoje estão no fim do ensino médio--, moravam com a família e, embora a penugem em seus rostos fosse imperceptível, recorriam à gilete paterna.
Os universitários tinham em média 21 anos, liam Althusser, Plekhanov e Lukács, e alguns já haviam namorado uma ou outra atriz do cinema novo. Revolução era coisa séria, daí não quererem saber de secundaristas nas passeatas --estes seriam imaturos, radicais, estabanados. Bem, a seriedade prevaleceu, mas foi derrotada do mesmo jeito.Em 2013, a composição das manifestações de rua é outra. É também um movimento de jovens --só que muito mais jovens. A maioria parece oriunda do ensino médio, e já pensei ver entre eles recém-saídos do ensino fundamental. É como se, em 1968, os manifestantes fossem os secundaristas e os ginasianos --idade em que os objetivos são mais generosos do que práticos. É preciso mudar "tudo", você sabe, e para ontem.
A juvenilização da participação política é um fato, mas, desta vez, está produzindo resultados --as bandeiras dos manifestantes, cada vez mais definidas, começam a chacoalhar o Planalto e o Congresso. E, a indicar que essa juvenilização é sem volta, tivemos no domingo último, no Parque do Flamengo, no Rio, o "Ato brincante" --a manifestação de centenas de crianças, de zero a dez anos, que, levadas por suas belas e jovens mães, pintaram rostos e cartazes para protestar contra "tudo".
Fizeram bem essas mães. Preci-samos mesmo preparar os bebês. Ao ritmo atual, em dez anos ou menos, será a vez deles saírem às ruas, e para valer.
- Folha de S.Paulo, 28/6.2013
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