Folha de S.Paulo, 25/6/2013
SÃO PAULO - A julgar pelo tom médio dos comentários que li no fim de semana, estamos em uma situação pré-revolucionária a partir da qual nada mais será o mesmo na política brasileira. Até gostaria que fosse verdade, mas receio que a realidade seja um pouco mais pesada.
O futuro é, por definição, contingente e quase tudo pode acontecer. Ainda assim, algumas coisas são mais prováveis do que outras. Os protestos não durarão para sempre. Como escrevi numa coluna da semana passada, manifestações dão trabalho, impõem um ônus às cidades e acabam enjoando. Se democracia direta fosse bom, assembleias de condomínio seriam um sucesso. Não são. E esse é um dos motivos por que inventamos a democracia representativa.
É claro que algo desse movimento permanecerá, mas é cedo para uma avaliação definitiva. Se o passado serve de guia para o futuro, o quadro não é dos mais promissores. Após o impeachment de Fernando Collor, em 1992, boa parte dos brasileiros acreditávamos que o país abraçara um novo --e melhor-- paradigma no que diz respeito à tolerância para com os desmandos da classe política. Ainda que isso tenha ocorrido em algum grau, não foi o suficiente para evitar os muitos escândalos que se sucederam. A política mudou, mas muito menos do que desejaríamos.
Não estou dizendo que as manifestações sejam inúteis ou inoportunas. Só acho que, para além do impacto concreto e passageiro sobre tarifas, seu efeito positivo é um pouco mais sutil e indireto. Protestos são um sintoma de que, pouco a pouco, se constitui no Brasil uma sociedade civil mais articulada, capaz de cobrar seus governantes e por eles ser ouvida, e isso é importante para azeitar as instituições democráticas.
No fim das contas, o que distingue países que dão certo de nações fracassadas é a existência de estruturas que assegurem que o poder político e econômico não será monopolizado pela casta dirigente.
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