16 de junho de 2013

HÉLIO SCHWARTSMAN Terror psicológico


SÃO PAULO - Quão real é a ameaça do terrorismo? A revista britânica "The Economist" e o blogueiro e matemático Nate Silver, guru das previsões eleitorais, sustentam que o temor é exagerado e não justificam as medidas de exceção tomadas pelo governo norte-americano, que incluem a espionagem em massa.
Concordo com eles. O argumento é estatístico. Nas contas de Ronald Bailey, editor da revista "Reason", após o 11 de Setembro, a chance anual de um americano ser morto num atentado terrorista dentro ou fora do país foi de uma em 20 milhões. A título de comparação, o risco de óbito em acidente de trânsito nos EUA é de um para 19 mil; o de afogar-se na banheira, um para 800 mil; e o de ser fritado por um raio, um para 5,5 milhões.
Estima-se que, desde 2001, os EUA tenham gasto US$ 1 trilhão em medidas e programas contra o terrorismo. Se a meta fosse salvar vidas, seria mais racional investir esse dinheiro (ou uma fração dele) em obras de segurança viária ou mesmo cobrindo a América de para-raios.
O problema com as pessoas é que elas não são racionais, especialmente quando se trata de medos. Esse é um mecanismo evolutivo que surgiu bem antes da razão e é muito mais eficaz do que ela. Somos, afinal, todos descendentes de indivíduos que, ao menor sinal de perigo, souberam fugir rapidamente. As mentes mais inquisitivas, que procuravam estimar objetivamente o grau da ameaça, não deixaram progênie.
É claro que as coisas mudaram do Pleistoceno para cá. Hoje, vivemos num ambiente muito mais controlado, no qual faria mais sentido calcular riscos do que reagir destrambelhadamente a perigos raros ou imaginados. Só que nossas mentes foram forjadas para operar na Idade da Pedra, não no mundo da estatística e das tabelas atuariais. O resultado é que estamos praticamente condenados a gastar recursos públicos de forma pouco sábia e a reagir com o fígado quando deveríamos usar a cabeça.

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