21 de junho de 2013

HÉLIO SCHWARTSMAN Tarifa zero, um delírio?


SÃO PAULO - O ônibus deve ser grátis? Embora a proposta de tarifa zero seja, muitas vezes, pintada como uma utopia de jovens desmiolados ou radicais, a pergunta faz sentido.
Metrópoles desenvolvidas arcam com parte do custo do transporte público. Fazem-no não só por populismo dos políticos locais mas também para imprimir mais eficiência ao sistema. E, se a discussão se dá em termos de definir o nível ideal de subsídio, a gratuidade deixa de ser um delírio para tornar-se a posição mais extrema num leque de possibilidades.
Defendo o realismo tarifário para quase tudo, mas há casos em que ele não funciona. O ônibus é um deles. Se o passageiro tivesse de pagar integralmente o valor da viagem, a tarifa aumentaria sempre que os custos subissem por fatores tão diversos como o dissídio dos motoristas e a piora do trânsito. Isso seria um incentivo a mais para o cidadão trocar o transporte público pelo carro particular, com impacto negativo sobre o tráfego. O resultado é um círculo vicioso em que todos andamos mais devagar.
O remédio é criar estímulos para as pessoas deixarem o carro em casa e usarem o transporte coletivo. O mais óbvio deles é o preço. Viajar de ônibus tem de ser bem mais barato do que de carro. Se for mais rápido também, melhor, daí a necessidade dos corredores exclusivos. Outro mecanismo eficaz é o pedágio urbano, mas ainda não surgiu prefeito macho o bastante para adotá-lo.
Apesar dessas considerações, sou contra a tarifa zero, porque ela traz uma outra classe de problemas que já foi bem analisada pelo pessoal da teoria dos jogos: se não houver pagamento individual, aumenta a tendência de as pessoas usarem ônibus até para andar uma esquina, o que é ruim para o sistema e para a saúde. A passagem barata é preferível à grátis.
Para complicar mais, vale lembrar que a discussão surge no contexto de prefeituras com Orçamentos apertados e áreas ainda mais prioritárias como educação e saúde para atender.

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