PROTESTOS EM QUESTÃO
A Paulista ocupada pela tropa de choque e por suas sirenes, abafando palavras de ordem, foi o estopim para a rearticulação das entidades estudantis
São Paulo e as principais capitais brasileiras vivem cenas que ainda não tinham passado pelos olhos da geração mais jovem: ruas tomadas por centenas de milhares de pessoas que defendem, em essência, a revogação do aumento das tarifas do transporte público e um sistema de mobilidade urbana mais democrático e de qualidade, entre outras reivindicações.Depois de ser duramente reprimida pela ação policial, a mobilização em São Paulo conseguiu o primeiro avanço com a redução da tarifa e fez com que os estudantes voltassem a reivindicar o direito de ocupar a rua.
A massa de estudantes que não ia às ruas há mais de 20 anos sentiu na pele o drama vivido por movimentos sociais e pela população periférica das cidades: o despreparo da polícia brasileira.
Incapaz de lidar com demandas que transbordam o espaço universitário e das mídias sociais, as ações policiais expõem a sua latente imaturidade democrática, que ganhou notoriedade em 13 de junho último, quando uma manifestação pacífica foi reprimida de forma desproporcional, num espetáculo macabro de balas de borracha, bombas de efeito "moral" e gás de pimenta.
O desfecho foi a avenida Paulista ocupada pela tropa de choque e por sirenes que abafaram as palavras de ordem. Esse foi o estopim para a rearticulação das entidades estudantis de São Paulo. Reunidas em torno da liberdade de manifestação e da redução da tarifa, têm agora a chance de continuar a mobilização e buscar respostas sobre o significado desses 20 centavos.
Quem vai pagar essa conta e o que vai mudar no longo prazo são questões essenciais para as próximas movimentações, seja nas universidades, seja na rua. O município está licitando a concessão do transporte público para os próximos 15 anos e ainda não tem mecanismo permanente direcionado à consulta da população.
Saber usar essa janela de oportunidade de forma democrática dá voz ao movimento estudantil para que deixe novamente sua marca no debate público. Os estudantes já estão na rua. As insatisfações continuam. E agora? Podemos dar mais um passo e alcançar dois objetivos pertinentes a essa mobilização.
O primeiro é a reforma da política de mobilidade urbana, com transparência nas contas públicas e participação direta da população. O segundo, a defesa da liberdade de expressão e manifestação, responsabilizando-se os abusos policiais e garantindo a tolerância às bandeiras de partidos e movimentos. Restam, portanto, duas contas a pagar: a do vintém e a do vinagre. Os estudantes de São Paulo, novamente reunidos e em sintonia com a sociedade, voltaram a ser capazes de cobrar, quando e de quem for devido.
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