Em Londrina, índice de crianças e adolescentes assassinados aumentou mais que 100% em uma década Os casos de crianças atingidas por tiros nos próprios bairros onde moram, em Londrina, no mês passado, e que resultaram na morte do menino de 12 anos e ferimentos em uma garota de 11 (leia mais nesta edição), alertam que uma parcela da população que deveria ser protegida e cuidada está cada vez mais suscetível à violência. As duas tragédias confirmam uma tendência identificada por pesquisas que apontam o crescimento expressivo nas taxas de assassinatos de crianças e adolescentes no Paraná. Indicando uma possível interiorização da violência, os índices são ainda maiores em Londrina.
De acordo com o Mapa da Violência publicado no ano passado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), em 2000, enquanto o índice brasileiro de assassinatos de crianças e adolescentes de 0 a 19 anos (referência de idade utilizada na pesquisa) era de 11,9 por cem mil habitantes no Brasil, a taxa ficava em 9,4 em Londrina e 8,4 no Paraná. Dez anos depois, os números de Londrina disparam e superam em quase 100% a média nacional. São 22,5 crianças e adolescentes assassinados por cem mil habitantes na cidade, contra 18,8 no Paraná e 13,8 no Brasil.
Para Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador da Área de Estudos da Violência da Flacso e responsável pelo Mapa da Violência, os dados são "alarmantes" e indicam que essa faixa da população que deveria receber proteção social está superexposta aos riscos da violência. "Setores vulneráveis, como crianças e adolescentes, que deveriam ser protegidos pelo Estado, pela família e pela sociedade, acabam passando de vítimas a culpados pela violência, o que gera mortes nessa faixa etária. Quando um adolescente é morto em um acerto de contas do tráfico, por exemplo, a explicação para o assassinato é o envolvimento com as drogas. Ninguém questiona, porém, por que aquela criança está recorrendo às drogas", critica.
Outra justificativa para o elevado índice de mortes por homicídio entre os mais jovens é o que o pesquisador chama de "cultura da violência no Brasil". Segundo ele, em janeiro de 2013 o Conselho Nacional do Ministério Público divulgou uma pesquisa realizada em seis estados que detectou que mais da metade dos homicídios no País são causados por motivos fúteis. "Acaba ocorrendo a resolução de conflitos através do extermínio do próximo", critica.
Por fim, Waiselfisz acredita que os altos índices de impunidade no Brasil geram uma tendência de "extermínio de testemunhas". O pesquisador cita uma estimativa que aponta que apenas 4% dos homicidas vão para a cadeia no Brasil. Além disso, ele lembra da terceira meta da Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública, que objetivava ao final de 2011 a solução de todos os inquéritos de homicídios anteriores a 2008 e parados nas prateleiras das delegacias do País, que totalizavam 134 mil inquéritos.
"Depois da realização de uma força-tarefa, foram apresentadas denúncias de oito mil inquéritos, ou seja, 6% do total", indigna-se. Diante da impunidade, as testemunhas que podem gerar uma prisão em flagrante tornam-se muito mais incômodas que o risco de ser punido por homicídio, o que eleva as taxas de assassinatos.
Com relação aos altos índices de mortes de adolescentes e crianças em Londrina, o pesquisador defende uma possível interiorização da violência no Brasil. "Antes de 2000, os índices eram maiores nas capitais e regiões metropolitanas. Com a migração do desenvolvimento econômico para o interior, essas regiões tornaram-se polos atrativos de população, passando também a atrair mais crimes e violência", considera. O problema, segundo ele, é agravado pelo fato de que esses novos polos estavam pouco preparados para lidar com o aumento da criminalidade.
Folha de Londrina, 16/6/3013
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