23 de janeiro de 2014

82% dos Paulistanos são contra rolezinhos, revela pesquisa Datafolha


Paulistanos acham que lojistas estão certos ao buscar proibição na Justiça
Atitudes dos jovens que mais incomodam os frequentadores desses lugares são correrias (70%) e gritarias (54%)
MARCELO LEITEDE SÃO PAULO, Folha de S.Paulo, 23/1/2014
Se os rolezinhos forem mesmo um movimento de protesto contra o apartheid social, como querem alguns setores progressistas, a pesquisa Datafolha sobre o fenômeno do verão vem confirmar que a população da cidade é bem conservadora: 82% dos paulistanos se dizem contra os encontros de jovens da periferia em shopping centers.
A condenação da atividade é geral, sob qualquer recorte que se faça da pesquisa com 799 moradores da capital maiores de 16 anos.
A média dos que apoiam as reuniões é de meros 11% e aumenta muito pouco --considerada a margem de erro da pesquisa, de quatro pontos percentuais, para baixo ou para cima-- mesmo entre aqueles dos quais seria de esperar certa aprovação.
Moradores da zona leste, o maior bolsão de exclusão social da cidade? Apenas 8% de aprovação, a menor de todas. Jovens? Só 18% dos que têm até 24 anos se declaram favoráveis aos rolezinhos.
Além deles, os maiores contingentes de apoio --ainda assim, uma franca minoria-- se encontram entre os mais ricos (16% entre os que ganham mais de dez salários mínimos mensais) e mais escolarizados (14% dos que têm nível universitário).
A hipótese mais provável para essa aprovação ligeiramente superior entre os de maior renda e maior escolaridade é que haja entre eles um número maior de pessoas "de esquerda". Ou seja, mais propensas a adotar a explicação de que os rolezinhos são uma reação organizada de jovens contra a exclusão social e a discriminação racial.
PRAIA TRANQUILA
O Datafolha atesta o lugar-comum de que os centros de compras são a praia dos paulistanos: 73% vão ao shopping pelo menos uma vez por mês (e 25%, toda semana). E quem vai à praia quer tudo menos algo que se pareça, mesmo de maneira remota, com um arrastão.
As atitudes que mais incomodam os paulistanos nesse ambiente são as correrias (70%), gritarias (54%) e aglomerações (46%). Sua tradução preferida para o verbo "zoar", muito usado nas convocações de rolezinhos pelas redes sociais, é "provocar tumulto" --verdadeiro objetivo das reuniões para 77% dos ouvidos pelo Datafolha.
O propósito declarado dos adeptos dos rolezinhos --"apenas se divertir"-- convence não mais que 18% dos paulistanos. Tamanha desconfiança é o que deve estar por trás da constatação de que 83% dos entrevistados que têm filhos menores de 25 anos não concordariam com sua participação num desses encontros.
SEM VIÉS RACIAL
Nada nessas opiniões dos paulistanos, por certo, exclui a possibilidade de que na raiz dos rolezinhos esteja uma certa irrelevância social de legiões de jovens de periferia, muitos dos quais não estudam nem trabalham. É plausível, dada essa condição, que queiram apenas "causar", chamar a atenção --como não deixam dúvida suas roupas e suas músicas.
O que o Datafolha revela é que, na população, as interpretações mais benignas do fenômeno, por assim dizer sociológicas, parecem contar com pouca simpatia. De outra maneira, como explicar que tantos defendam a pura repressão das reuniões?
Para 80% dos entrevistados, os lojistas agem corretamente ao buscar a Justiça para proibir os encontros. Outros 73% consideram que a Polícia Militar deve ser acionada para impedi-los. E 72% acham que não há preconceito de cor na reação dos shoppings, em aberta contradição com a ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros (PT), para a qual há "discriminação racial explícita".
O grupo que avalia haver, sim, preconceito racial na atitude dos lojistas não ultrapassa um quarto dos entrevistados (exatos 25%). Como seria de esperar, entre os que se declaram da cor preta é maior o número dos que identificam reação preconceituosa, mas ainda assim menos de um terço do total (32%). E entre os que se autoclassificam como pardos, supostamente também mais visados, só 23% têm essa opinião.
De todo modo, a repulsa à discriminação é geral: 73% afirmam que os shoppings não têm o direito de escolher quem pode e não pode entrar neles. A não ser, é claro, que a galera da periferia apareça fazendo confusão.

Acordo com comunidades protege shoppings de roubos, diz associação
Entidade que representa lojistas propõe que governo de SP construa 'rolezódromos' para jovens
Segundo presidente da Alshop, líderes locais espalham a ideia de que empreendimentos devem ser poupados
LEANDRO MACHADODE SÃO PAULO, Folha de S.paulo, 23/1/2014
O presidente da Alshop (Associação dos Lojistas de Shopping Centers), Nabil Sahyon, disse ontem que lojas e centros comerciais têm "acordos de proteção" com líderes comunitários da periferia. O objetivo seria evitar roubos e furtos aos locais e aos clientes.
Sem citar nomes, Sahyon contou que lojistas promovem projetos sociais em comunidades pobres no entorno dos shoppings. Assim, diz ele, conseguem a confiança dos moradores e representantes das regiões onde estão.
"Os líderes comunitários têm um acordo de proteção a esses empreendimentos, porque eles [shoppings] ajudam essas favelas. Existe toda uma política de ajuda, não só de shoppings, mas de varejistas."
Segundo ele, a missão dos líderes é espalhar a ideia de que o shopping colabora com a região e, por isso, deve ser poupado de possíveis crimes.
"Se alguém está mal intencionado nessas comunidades e tentar fazer um assalto, ele [shopping] acaba tendo a proteção dos líderes."
Esses acordos existem em shoppings de São Paulo e de outros Estados, diz Sahyon.
A Abrasce (associação que reúne mais de 250 donos de shoppings no país) diz desconhecer tais "acordos de proteção". A Secretaria da Segurança não quis comentar o assunto porque não houve referência à polícia, além de afirmar que a segurança dos shoppings é privada.
Sahyon disse ainda que pediu ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) a criação de "rolezódromos" na periferia. "Todos são bem-vindos, mas a entrada de milhares de jovens ao mesmo tempo compromete a segurança. Shopping não é lugar de baile funk."
No entanto, os jovens afirmam que, ao realizarem os rolês, eles querem ir aos shoppings, e não a outro lugar.
Sobre a proposta, o governo afirma que já há pontos de lazer nessas regiões, como escolas e Fábricas de Cultura.
A Alshop disse que shoppings que foram alvo de rolezinhos neste ano tiveram queda de 25% nas vendas e no movimento em ante o mesmo período de 2013.
O Palácio do Planalto agendou para a próxima quarta-feira uma reunião com representantes da Alshop. A ideia é fazer uma primeira discussão sobre os rolezinhos.

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