Relatório do Fórum Econômico Mundial aponta a desigualdade como o risco global mais inquietante
A presidente Dilma Rousseff tem um ponto favorável a apresentar em Davos, durante o encontro anual-2014 do Fórum Econômico Mundial: a suposta redução da desigualdade no Brasil.
Por partes:
1 - A crônica desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres aparece, pela terceira vez consecutiva, como o risco global com mais possibilidade de explodir, segundo o relatório "Riscos Globais" de 2014, preparado para o fórum por 700 peritos da academia, do mundo dos negócios e da política.
2 - No mundo rico, a desigualdade, além de crônica, é crescente. No Brasil, é crônica, mas decrescente, segundo a propaganda oficial.
Logo, o Brasil pode ser apresentado aos investidores, que formam a grande plateia de Davos, como um dos poucos países em que o risco global mais iminente está em queda.
Não é inteiramente verdade. O que diminuiu no Brasil foi a desigualdade entre assalariados.
Não há medição confiável sobre a desigualdade mais obscena, que é entre a renda do capital e a renda do trabalho.
Mas é razoável supor que esta até aumentou, dado que o governo dedica à, digamos, "bolsa-juros" (recebida pelos mais ricos) três vezes mais recursos que ao Bolsa Família, para os mais pobres.
Mas Dilma não precisa fazer essa ressalva, até porque ela não será cobrada pelo povo de Davos, que só se preocupa retoricamente com a desigualdade, exceção feita a umas poucas almas sensíveis.
De todo modo, o Brasil não é exceção quando o foco sobre desigualdade se fecha sobre os jovens.
O relatório do fórum se preocupa com o futuro da juventude, devido "à qualidade do acesso à educação, à marginalização das jovens gerações e ao alto nível de desemprego juvenil".
Os protestos de junho e os rolezinhos de agora mostram que a preocupação dos pesquisadores com os jovens se aplica também ao Brasil.
Menos mal que, no conjunto da América Latina, o desemprego juvenil seja menos brutal do que na média mundial (12,5% nestes trópicos, ante a média geral de quase 30%).
Ainda assim, suspeito que valha para o Brasil o comentário sobre a desigualdade no mundo feito sexta-feira para o jornal "El País" por Sandra León, professora da Universidade de York:
"O risco mais profundo e corrosivo da desigualdade se encontra na ruptura da coesão em que se sustenta a convivência social. Uma sociedade com amplas desigualdades está altamente incapacitada para alcançar um acordo básico sobre direitos e deveres".
Um segundo risco --este não presente no Brasil-- é o de que a desigualdade leve à busca de alternativas políticas extremistas, como a neonazista Aurora Dourada da Grécia ou a xenófoba Frente Nacional francesa --ambas com chances de obter uma votação forte nas eleições para o Parlamento Europeu em maio deste ano.
No Brasil, a única novidade eleitoral dos últimos muitos anos foi Marina Silva, que está longe de ser extremista.
Tudo somado, os "rolezinhos" de certa forma pairarão sobre os Alpes suíços.
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