24 de janeiro de 2014

Noticias sobre os Rolezinhos

Rolê longe do shopping
Com receio de furtos e tumultos a reboque dos 'rolezinhos', alguns paulistanos estão dando um tempo da 'praia' urbana
ROBERTO DE OLIVEIRADE SÃO PAULO, 24/1/2014, Folha de S.Paulo

Cariocas adoram falar que shopping é "praia" de paulistano. Nesta temporada de termômetros nas alturas, tal programa, na avaliação de alguns frequentadores, anda com a cotação em baixa. Culpa dos "rolezinhos", dizem.
A principal diversão da atendente Ana Paula Silva Costa, 31, era almoçar no shopping Metrô Itaquera (zona leste da capital) com a família. Agora, quando passa pelo local para pegar o metrô, evita até uma voltinha.
Centros de compras que foram alvo de "rolezinhos" tiveram queda de 25% em vendas e movimento, em relação a igual período de 2013, diz a Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping).
"Tenho medo de arrastão e tiroteio. Meus dois filhos, de 9 e 16 anos, iam nos fins de semana. Agora, estão proibidos de pisar lá", conta.
Ana lembra que tomou essa iniciativa porque "quase infartou" no começo deste mês, após receber um telefonema desesperador do filho.
Ele estava "preso" dentro do shopping, cercado por policiais, naquele que foi considerado o mais violento "rolezinho" --na ocasião, a PM usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar os jovens.
"Fui buscá-lo às pressas", conta Ana, que mora em São Miguel Paulista, zona leste.
No extremo oposto de São Paulo, no Alto de Pinheiros, vive a empresária Edna Queiroz, 55, que, embora nunca tenha passado por uma experiência dessas, também deu "um tempo de shopping".
Ela conta que frequentava ao menos duas vezes por semana o Villa-Lobos. "No momento, não me sinto tranquila. De repente, entra um bando e vira arrastão. Você está distraída e levam sua bolsa."
DE PORTAS FECHADAS
Para a maquiadora Margarette Reis, 42, os shoppings "estão cobertos de razão em fechar as portas diante de ameaças de rolê'". "É para garantir a segurança de funcionários e frequentadores."
Moradora da Chácara Santo Antônio (zona sul), ela dava seu "rolê" nos shoppings Morumbi e JK Iguatemi ao menos duas vezes por semana para jantar, comprar e pegar uma tela. No momento, está "evitando".
A maquiadora diz também ser favorável a que os centros de compras submetam frequentadores a uma "triagem" na entrada. "Neste momento delicado por que estamos passando, é necessário."
Pesquisa Datafolha revela que 82% dos paulistanos são contra os "rolezinhos".
Esses fenômenos revelam como "a classe média está acuada", filosofa Margarette. "Primeiro, foram os arrastões em restaurantes. Trocamos os de rua pelos de shopping. E agora? A gente não sabe quem está no meio do rolê."
Para a empresária Edna, é aí que mora o perigo. "Essas manifestações sempre descambam para o vandalismo."
Diz mais: "Em todo grupo, há uma maçã podre. Quando eles estão em turma, querem se exibir. É como se escancarassem para todos: Quebro, faço e ninguém me pega'".
Frequentadora dos shoppings Metrô Tatuapé, Itaquera e Aricanduva, onde mora, a estudante Suelen de Oliveira Gregório, 18, enxerga "muita paranoia nessa história". "Gente, a receita é simples", diz: "Basta monitorar pela internet. Se for rolar, eu não vou. Fico em casa. Ponto!".

Cansados da polícia, jovens fazem eventos em parques
Ibirapuera agora é ponto de encontro
GIBA BERGAMIM JR.DE SÃO PAULO
"A gente não não quer mais levar enquadro de segurança, então é melhor fazer "rolezinho" no parque", diz Vinícius Andrade, 17, um dos mais ativos participantes dos encontros de jovens.
Após uma série de liminares na Justiça e de uma investigação policial para apurar crimes, os "rolezinhos" estão mudando de endereço.
Em vez dos shoppings, grupos de jovens que marcam os encontros no Facebook agora estão combinando os eventos em áreas públicas como o parque Ibirapuera (zona sul), onde está previsto um megarrolezinho, feriado de aniversário da cidade.
Dois eventos marcados por grupos diferentes tinham 6,6 mil confirmados até ontem.
A ideia dos "rolezeiros" é evitar embates com seguranças e a PM e escapar da multa de R$ 10 mil, que vem sendo estipulada por juízes que acolhem pedidos dos shoppings para barrar os eventos.
Nos "rolezinhos" em shoppings, os jovens entram pacificamente. Lá dentro, costumam entoar refrões de funk estilo ostentação e, às vezes, promover correrias.
Até a noite de ontem, pelo menos 4,7 mil pessoas confirmaram presença na página do "Rolezinho do Ibirapuera Party II". Outras 1,9 mil prometem aparecer no "Rolezinho no Parque Ibirapuera II. Vem todo Mundo!". Para hoje, às 18h, um "rolezinho" no Shopping Aricanduva tem menos de mil confirmações.
"Estão discriminando a gente no shopping, achando que a gente vai roubar. Então, vamos marcar no parque e fazer o de sempre: dar um rolê, curtir e tentar beijar umas minas", diz Vinicius, que organiza um dos eventos. Plinio, 17, o Alemão, concorda. "A gente fez um rolê menor no parque na semana passada e nenhum PM nem segurança veio pedir documento. Bem melhor", conta.
ESTACIONAMENTOS
A secretaria da Igualdade Racial diz que tentará fechar um acordo na próxima semana com o Ministério Público e donos de shoppings para que os estacionamentos dos centros de compras possam ser usados pelos jovens.
Segundo a secretaria, há um acordo informal para para que os shoppings abram mão de medidas judiciais.

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