19 de maio de 2014

Aumento de gastos da USP teve o aval do atual reitor

Dirigente participou de reuniões que resultaram em gasto maior que receita
Nos últimos anos, instituição comprou imóveis, navio para pesquisa e concedeu reajustes salariais
FÁBIO TAKAHASHIDE SÃO PAULO, Folha de S>paulo, 18/5/2014

O atual reitor Marco Antonio Zago deu aval para os gastos feitos pela USP desde 2011 que levaram a universidade a entrar em crise.
Documentos analisados pela Folha mostram que o Conselho Universitário, formado por cerca de 150 dirigentes, entre eles Zago, autorizou os gastos que superaram em pelo menos R$ 1,3 bilhão o montante que a USP tinha disponível para cobrir suas despesas em dois anos.
O maior vilão do rombo foi a folha de pagamento dos funcionários da USP.
Zago, que assumiu o cargo em janeiro passado, era pró-reitor de pesquisa à época.
Em abril deste ano, ele chegou a distribuir carta aberta à comunidade acadêmica justificando a necessidade de cortes e contenção de gastos.
Em um dos trechos, ele escreve que a situação orçamentária antes de sua posse era "compartilhada por poucas pessoas, entre as quais não estavam incluídos pró-reitores".
Para tentar superar a crise, a universidade suspendeu obras, contratações de novos profissionais e propôs o congelamento de salários.
O reitor da gestão passada foi João Grandino Rodas. Ele e Zago foram procurados pela Folha, mas não falaram.
POUPANÇA
Além dos reajustes salariais, a USP comprou imóveis e outros bens.
Um professor que participou da reitoria e pediu anonimato, diz que a universidade gastou R$ 70 milhões para adquirir uma área ao lado da Cidade Universitária, no Butantã, na zona oeste.
Também comprou escritórios no Centro Empresarial de Santo Amaro, na zona sul, e um navio oceanográfico, que está parado há seis meses.
A aprovação dos gastos obrigou a USP a começar a utilizar dinheiro de uma poupança que mantém para cobrir aposentadorias e grandes investimentos.
A USP, que teria repasse de R$ 4,36 bilhões, acabou tendo de usar ainda mais reservas para cobrir suas despesas. Em dezembro de 2012, por exemplo, o conselho aprovou o uso de quase R$ 1 bilhão (R$ 509 milhões das reservas para 2013 e R$ 460 milhões já utilizados em 2012).
A universidade possuía R$ 3,2 bilhões de reserva em 2012. Com os gastos, em março deste ano esse valor já estava em R$ 2,31 bilhões.
Em 2011, a USP já sabia que começaria a usar suas reservas. Na ocasião, o conselho aprovou aumentos a técnicos e docentes por meio de mudanças no plano de carreiras.
A nova carreira para os técnicos passou pelo conselho sem nenhum voto contrário, ainda que uma comissão assessora tivesse alertado que seria necessário o uso da poupança para cobrir o reajuste.
Nos últimos quatro anos, os técnicos da USP receberam aumento médio de 75%; os docentes, de 43%.
O salário médio de um docente subiu de R$ 9.500 para R$ 13,5 mil. O dos técnicos passou de R$ 4.700 para R$ 8.300. Os gastos da universidade são bancados com parte do ICMS.
Dois professores que estavam em postos-chave da gestão anterior afirmaram à Folhaque a universidade tende a não prestar muita atenção no impacto orçamentário de seus novos programas. "No caso da carreira dos técnicos, o conselho aprovou de pé", disse um deles. "Era bom para a USP? Então aprovamos."
Eles deram entrevista sob a condição de não serem identificados, pois entendem que a justificativa oficial deve ser dada pelo ex e pelo atual reitor, que conduzem as discussões dentro da USP.

OUTRO LADO
Reitor e ex não falam sobre a elevação de gasto
DE SÃO PAULO
O atual reitor da USP, Marco Antonio Zago, foi procurado desde o dia 8 para falar sobre os gastos da Universidade de São Paulo, mas ele não atendeu a Folha.
Zago assumiu o cargo em janeiro, mas era pró-reitor de pesquisas e membro do Conselho Universitário na gestão anterior. Integrantes do órgão autorizaram as propostas orçamentárias e, por conseguinte, o aumento das despesas da universidade.
A assessoria da USP afirmou apenas que algumas das medidas que impactaram o orçamento não passaram pela análise do Conselho Universitário, como duas rodadas extras de reajustes e a contratação de 2.600 técnicos pela universidade.
Essas medidas são de responsabilidade do reitor anterior, João Grandino Rodas, que é procurado por e-mail e por telefone pela Folha desde janeiro, mas não retornou.
NAVIO
Sobre os gastos com o Alpha Crucis, a direção do Instituto Oceanográfico, responsável pela administração da embarcação, nega que haja avarias e diz que o navio está parado há mais tempo do que deveria por causa de questões burocráticas e financeiras.
Folha também pediu informações à atual reitoria e a Rodas sobre os imóveis adquiridos pela USP, mas não recebeu resposta.
Na semana passada, o Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas sugeriu congelar os salários de servidores técnico-administrativos e docentes da USP, Unesp (Universidade Estadual Paulista) e Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
A justificativa foi o alto índice de comprometimento com as folhas de pagamento.

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