GUILHERME SOARES DIAS - ESPECIAL PARA O ESTADO
02 Julho 2014 | 03h 00
Entre brasileiros mais ricos, 85% finalizam educação básica, ante 28% dos mais pobres, conforme estudo do BID
SÃO PAULO - A maior parte dos estudantes que abandonam o ensino médio não acredita que a educação vai proporcionar melhor qualidade de vida. É o que aponta análise do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) com jovens brasileiros.
No Brasil, apenas 58% dos estudantes concluem o ensino médio - e as diferenças sociais são decisivas. Enquanto 85% dos alunos mais ricos no Brasil finalizam essa etapa, 28% dos jovens com menos recursos conseguem o mesmo.
Com base em pesquisas domiciliares em países latino-americanos, o BID identificou que a maioria dos estudantes entre 13 e 15 anos que não frequentam a escola coloca a falta de interesse como a principal razão para o abandono. Nas camadas mais pobres, os jovens latinos não chegam a completar 9 anos de educação e a disparidade na aprendizagem é elevada entre escolas urbanas e rurais.
Os estudantes indígenas são os mais excluídos: 40% da população entre 12 e 17 anos está fora da escola. Quando se trata de crianças e jovens com deficiências, estima-se que de 20% a 30% frequentem a escola.
Para o BID, as lacunas na educação exigem estratégias de prevenção e soluções inovadoras. “O maior desafio é conquistar o interesse dos jovens. Para isso, é importante que os educadores identifiquem os jovens em risco de abandono enquanto estão na escola e desenvolvam intervenções personalizadas para impedi-los de deixar as salas de aula”, afirma o estudo.
O levantamento destaca que entre os indicadores que alertam que um jovem pode deixar a escola estão assiduidade, comportamento em sala de aula e aprovação nas disciplinas. “Na prática, isso significa que é necessário avaliar todos os dias os alunos que vão para a escola, saber por que eles não comparecem e seguir o desempenho durante as aulas”, aponta o BID. O banco recomenda a implementação de intervenções individuais para o aluno.
O gerente do Departamento de Relações Externas do BID, Marcelo Cabrol, reforça que as diferenças sociais são decisivas no abandono escolar. “O problema não é só a diferença de perspectiva entre ricos e pobres, mas há um problema relevante de qualidade das escolas onde esses alunos estão”, considera.
Copa. Levando em consideração as três modalidades avaliadas pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, em inglês), o BID também fez uma comparação em termos de educação dos países que participam da Copa do Mundo. O Japão, que oscilou entre a quarta e a sétima posição, seria o vencedor, se fosse um torneio de educação. Já os latino-americanos estariam nas últimas posições. Na América Latina, o melhor colocado seria o Chile, cujo melhor desempenho em Ciências o deixa na 46.ª colocação. Já o próximo adversário da seleção canarinho no Mundial, a Colômbia, estaria atrás do Brasil em todos os itens.
O Brasil ficou na 59.ª posição em Ciências, na 58.ª em Matemática e na 55.ª em Leitura, em um ranking de 65 países. Para ser tão bem-sucedido como a Alemanha, por exemplo, o Brasil precisa, por exemplo, lidar melhor com os alunos de baixo desempenho e com os repetentes, recomenda a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Para a gerente de Projetos do Todos Pela Educação, Andrea Bergamaschi, há desconexão entre o que o aluno espera do ensino médio e o que encontra na sala de aula. “O currículo é carregado de conteúdos que não são necessariamente relevantes para alunos que querem seguir determinadas carreiras. O Brasil só tem um currículo, ao contrário de países como Chile, em que se pode eleger interesses. O País não dá essa opção.”
Ela reforça ainda que o ensino médio tem problemas específicos, mas lembra que também é resultado de um ensino fundamental problemático. “O déficit de aprendizado vai se acumulando. Espero que isso melhore com o Plano Nacional da Educação”, almeja.
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