15 de julho de 2014

ROSELY SAYÃO Os jovens e o álcool


Quais as razões para adultos e adolescentes pensarem que beber na juventude é uma fatalidade da vida?
Cientistas britânicos fizeram uma revisão de estudos já realizados sobre o uso de bebidas alcoólicas e chegaram a duas perguntas que podem auxiliar clínicos gerais na investigação de problemas com a ingestão de álcool.
As perguntas são simples: "Com que frequência você bebe seis ou mais doses em uma única ocasião?" e "No último ano aconteceu algo que você desejaria que não tivesse ocorrido como resultado do seu uso de álcool ou drogas?".
Pensei que essas perguntas podem também ajudar muitos pais de adolescentes. E nem é preciso fazer as perguntas aos filhos porque, de um modo geral, os pais já sabem as respostas, ou podem saber se quiserem. Eu mesma conheço alguns que já me contaram situações vivenciadas pelos filhos que podem ser relacionadas a essas questões.
Muitos jovens, inclusive com menos de 18 anos, têm abusado das bebidas alcoólicas, tanto na quantidade quanto na frequência. E o mais preocupante é que esse fato, conhecido por muitos adultos que convivem com adolescentes, tem merecido pouca atenção.
Muitos pais sabem o que acontece com o filho, mas não têm ideia de como resolver a situação. É como se beber nessa idade fosse uma fatalidade da vida. Não é. Mas podemos levantar algumas razões para jovens e adultos pensarem desse modo.
Sabemos que a busca desesperada da felicidade, confundida com alegria momentânea, tem sido um objetivo de vida de muitos de nós. Outra busca de nosso estilo de vida tem sido, também, a alta performance social: ter muitos conhecidos, fazer sucesso entre eles, ser procurado por muita gente, fazer parte de diferentes grupos em redes sociais e em aplicativos de mensagens por celular são alguns dos sinais que apontam para isso.
Outra questão importante é a vida sexual: "pegar e ser pegado" é uma frase que se igualou à "ver e ser visto", indícios que demonstram grande popularidade entre os pares, ou seja, a alta performance social e também sexual.
Todas essas expectativas despejadas sobre os adolescentes podem provocar efeitos dramáticos. Um deles é o abuso das bebidas alcoólicas.
Conheço duas garotas, uma com 17 anos e outra com 19, que engravidaram sob o efeito exagerado do álcool. Conheço também vários garotos que já foram parar no hospital em coma alcoólico. Vomitar em baladas, festas e reuniões já é um fato corriqueiro e banal. Quem passa pelo ponto de encontro de jovens em Campos de Jordão nesta época, por exemplo, testemunha esse fato.
Não podemos ser cúmplices desses jovens nessa questão. E adotar a política proibicionista como única estratégia tampouco funciona. O que pode ajudar os pais em suas atitudes educativas com os filhos?
Creio que buscar a adesão deles ao autocuidado e ao amor à própria vida talvez seja uma boa atitude. É uma decisão aparentemente simples, mas isso não quer dizer que seja fácil praticá-la.
Ensiná-los, desde pequenos, a fazer a avaliação de riscos das situações que vivenciam, a reconhecer exageros no comportamento dos que se descuidam da saúde e dos que colocam a vida em risco são dois pontos a considerar.
Mas talvez o mais importante para os pais seja ter sensibilidade suficiente para equilibrar as proibições --sim, elas são necessárias-- com os ensinamentos das atitudes positivas.

Folha de S.Paulo, 15.7.2014

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