SÃO PAULO - O "New York Times" pediu em editorial a descriminalização da maconha. Para o jornal norte-americano, Washington deveria revogar as leis federais que tornam o uso, a produção e a venda da substância um ato ilícito e deixar que os Estados deem seguimento às várias experiências de legalização da erva que já estão em curso.
Até acho que, em termos táticos, a proposta faz sentido. A liberalização, afinal, precisa começar por algum lugar. Mas a ideia de incluir a maconha no rol das drogas legais e deixar de fora substâncias tidas como mais pesadas, a exemplo da cocaína, da heroína e das metanfetaminas, não me comove. E a razão é simples. Isso não bastaria para alterar o "statu quo", no qual cartéis de traficantes, valendo-se do incontível desejo de parte dos humanos de consumir psicotrópicos e dos fabulosos lucros que sua comercialização proporciona, vão acumulando um poder que, em algumas partes do mundo, já rivaliza com o de Estados. Se queremos reduzir a força corruptora do tráfico e a violência a ele associada, é preciso que drogas se tornem um produto como outro qualquer.
A empreitada não é sem riscos. É bastante razoável supor que a legalização ampliará o número de usuários, o que implicará mais casos de dependência e outras moléstias relacionadas. Ainda assim, é preferível lidar com um problema de saúde pública a ter de tratar da questão sanitária associada às dimensões policial e penitenciária, como ocorre hoje.
De resto, creio que nem o mais entusiasmado defensor da maconha pensa em tornar seu uso obrigatório. Como em tantos outros aspectos da vida, cabe a cada um tomar as decisões que sirvam melhor a seus interesses. O Estado pode e deve alertar para os perigos, que são reais quando se experimenta com drogas psicoativas, mas não é seu papel impedir que uma pessoa faça mal a si mesma, se ela considerar que o prazer obtido vale o risco.
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