17 de julho de 2014

PAULA CESARINO COSTA, A falha cultural da Copa


RIO DE JANEIRO - Foram milhares de turistas estrangeiros espalhados pelo Brasil. A grande maioria pisava pela primeira vez no país do futebol. Em média, ficaram por aqui mais de dez dias. O perfil preponderante era de homens, com idade média de 33 anos e formação universitária.
Voltaram para seus países felizes por terem presenciado bom nível futebolístico na "Copa das Copas". Encantaram-se com a simpatia do brasileiro. Maravilharam-se com as belezas das paisagens e das mulheres.
Nas várias pesquisas e entrevistas feitas com esses visitantes, não se viu citação ou comentário sobre a riqueza da cultura brasileira, a diversidade ou a criatividade dos artistas. Há uma errada aceitação da ideia de que o turista-torcedor tem interesse específico e não estaria disposto a gastar tempo e dinheiro com outras diversões além do futebol. Copa do Mundo sempre reúne um público diferente, muito mais amplo do que só o típico torcedor de futebol.
Aos estrangeiros que aqui aportaram, não foram oferecidas muito mais do que as Fan Fests ou festas pagas em clubes e casas de show. E a maior parte dessa oferta cultural vinha de patrocinadores de algum modo envolvidos com a Copa.
Capital turística do país, o Rio poderia ter sido o palco de exibição, por exemplo, de ampla produção artística brasileira. No país como um todo, ministério e secretarias de Cultura perderam a oportunidade de divulgar para o mundo música, artes plásticas, cinema, literatura e --por que não?-- televisão. E ninguém reclamou nem se lamentou a respeito.
Acabaram lotados o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar, com visitação diária quase triplicada. É pouco.
Segundo a prefeitura, 58% dos turistas pretendem voltar na Olimpíada. O Rio tem chance de recuperar o tempo perdido pela cultura do país. Ou o Brasil continuará apenas o simpático país do futebol, das belas praias e mulheres, e, claro, do Carnaval.

Folha de S.Paulo, 17/7/2014

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