Posted: 04 Jul 2014 12:18 PM PDT
Em um post anterior, sobre o ensino profissional, indiquei ao final a necessidade de o Brasil “avançar na implantação do Modelo de Bologna, permitindo que todos os estudantes de nível superior obtenham um primeiro diploma em 3 anos, e continuando a partir daí com o leque de especializações e aprofundamentos”. Muitos, naturalmente, não entenderam bem o que quis dizer com isto, daí a necessidade de uma explicação mais detalhada.
A expressão “Processo de Bologna” se refere a uma série de decisões que vem sido tomadas pelos governos da União Européia, com a adesão crescente de outros países, para reformar e tornar compatíveis entre si os sistemas de ensino superior de cada um. Um bom resumo do processo pode ser visto aqui. Existem dois aspectos centrais, que são a padronização da sequência de cursos superiores, o chamado “modelo 3-2-3″, e a questão da equivalência dos cursos e diplomas entre os países, facilitando a mobilidade das pessoas dentro da região. Muitas vezes se pensa que o segundo aspecto é o mais importante, mas, de fato, o primeiro é de muito maior alcance, sobretudo para os países da Europa continental e os que adotam ou adotavam modelos semelhantes.
O “modelo 3-2-3″ é baseado no sistema inglês e irlandês, que é bastante semelhante ao norte-americano. Ele faz com que todos os estudantes, ao entrar no nível superior, façam um curso inicial de três anos, que podem ser de formação mais geral e acadêmica ou mais profissional e voltado mais diretamente para o mercado de trabalho. Concluída esta etapa, com um diploma de bacharel, o estudante pode continuar estudando, se tiver interesse, em cursos de 1 ou 2 anos, aonde pode obter uma especialização e ingressar no mercado de trabalho com um título de mestre. Ou pode continuar estudando por mais três anos, em cursos de alta especialização e aprofundamento, de onde sai com o título de doutor. Se adotado no Brasil, isto significaria, por exemplo, que os cursos de administração, história e geografia e direito passariam a ter uma duração de dois anos, precedidos por 3 anos de estudos gerais de ciências sociais e humanidades; e que os diplomas das diversas engenharias especializadas teriam também duração de dois anos, precedidos de cursos gerais de matemática, física, etc. As vantagens deste formato são muito grandes. Em todo o mundo, a tendência é que a grande maioria os jovens continuem estudando depois do ensino médio, mas nem todos têm interesse ou condições de seguir cursos longos, e muitos acabam abandonando antes de chegar ao final. Além disto, nem todos têm condições de optar por uma especialização aos 18 anos, embora já possam ter áreas de interesse bem definidas. No sistema americano e inglês, o cursos dos “colleges” de 3 ou quatro anos são de formação geral ou de especialização profissional curta, e por isto mesmo são denominados de “undergraduate”, diferentemente do modelo tradicional da Europa continental e do Brasil, aonde o primeiro título já é de graduação (o que nós chamamos “pós-graduação” eles chamam de “graduate”). Não se trata de uma simples mudança de nomes, mas de uma mudança profunda, que permite que milhões completem três anos de educação superior com um diploma de validade legal, e cria grande flexibilidade de formação em cada um dos níveis.
Algumas instituições brasileiras têm tentado, com diferentes graus de sucesso, implantar sistema semelhante através dos bacharelados interdisciplinares, adotados por exemplo na Universidade Federal de Bahia e na Universidade Federal do ABC . Neste sistema, os alunos são admitidos para cursos gerais nas diferentes áreas (sociais, biológicas, tecnológicas) e só no final de três anos podem optar por concluir o curso em uma área profissional especializada. A vantagem deste sistema é que ele evita a especialização precoce, antes de uma formação profissional ampla. O principal problema é que não existe uma titulação ao término do terceiro ano, e não há como transferir os créditos obtidos nestes anos para outra instituição. Para os alunos que passam por todo o processo, o formato é bem interessante, mas ele não abre oportunidades para os que buscam um acesso mais rápido e mais prático ao mercado de trabalho, ou só se interessem pela formação geral. Além disto, ele não incorpora, como deveria, os cursos profissionais curtos de nível superior (os cursos “tecnológicos” , na terminologia oficial brasileira) que nunca se desenvolveram significativamente no país mas que são uma alternativa muito importante, e frequentemente majoritária,nos modernos sistemas de educação superior de massas em todo o mundo.
A adaptação dos diferentes países europeus ao sistema de Bologna não tem sido fácil, e tem encontrado resistência sobretudo nas carreiras mais tradicionais como engenharia, medicina e direito, com seus longos e estabelecidos currículos, que temem que seus cursos sejam desfigurados. Existem diferentes formas de lidar com estas dificuldades, com diferentes adaptações, algumas simplesmente mudando a forma sem alterar o conteúdo dos cursos, mas outras efetivamente criando sistemas de educação superior muito mais flexíveis e mais adaptados ao mundo contemporâneo.
A expressão “Processo de Bologna” se refere a uma série de decisões que vem sido tomadas pelos governos da União Européia, com a adesão crescente de outros países, para reformar e tornar compatíveis entre si os sistemas de ensino superior de cada um. Um bom resumo do processo pode ser visto aqui. Existem dois aspectos centrais, que são a padronização da sequência de cursos superiores, o chamado “modelo 3-2-3″, e a questão da equivalência dos cursos e diplomas entre os países, facilitando a mobilidade das pessoas dentro da região. Muitas vezes se pensa que o segundo aspecto é o mais importante, mas, de fato, o primeiro é de muito maior alcance, sobretudo para os países da Europa continental e os que adotam ou adotavam modelos semelhantes.
O “modelo 3-2-3″ é baseado no sistema inglês e irlandês, que é bastante semelhante ao norte-americano. Ele faz com que todos os estudantes, ao entrar no nível superior, façam um curso inicial de três anos, que podem ser de formação mais geral e acadêmica ou mais profissional e voltado mais diretamente para o mercado de trabalho. Concluída esta etapa, com um diploma de bacharel, o estudante pode continuar estudando, se tiver interesse, em cursos de 1 ou 2 anos, aonde pode obter uma especialização e ingressar no mercado de trabalho com um título de mestre. Ou pode continuar estudando por mais três anos, em cursos de alta especialização e aprofundamento, de onde sai com o título de doutor. Se adotado no Brasil, isto significaria, por exemplo, que os cursos de administração, história e geografia e direito passariam a ter uma duração de dois anos, precedidos por 3 anos de estudos gerais de ciências sociais e humanidades; e que os diplomas das diversas engenharias especializadas teriam também duração de dois anos, precedidos de cursos gerais de matemática, física, etc. As vantagens deste formato são muito grandes. Em todo o mundo, a tendência é que a grande maioria os jovens continuem estudando depois do ensino médio, mas nem todos têm interesse ou condições de seguir cursos longos, e muitos acabam abandonando antes de chegar ao final. Além disto, nem todos têm condições de optar por uma especialização aos 18 anos, embora já possam ter áreas de interesse bem definidas. No sistema americano e inglês, o cursos dos “colleges” de 3 ou quatro anos são de formação geral ou de especialização profissional curta, e por isto mesmo são denominados de “undergraduate”, diferentemente do modelo tradicional da Europa continental e do Brasil, aonde o primeiro título já é de graduação (o que nós chamamos “pós-graduação” eles chamam de “graduate”). Não se trata de uma simples mudança de nomes, mas de uma mudança profunda, que permite que milhões completem três anos de educação superior com um diploma de validade legal, e cria grande flexibilidade de formação em cada um dos níveis.
Algumas instituições brasileiras têm tentado, com diferentes graus de sucesso, implantar sistema semelhante através dos bacharelados interdisciplinares, adotados por exemplo na Universidade Federal de Bahia e na Universidade Federal do ABC . Neste sistema, os alunos são admitidos para cursos gerais nas diferentes áreas (sociais, biológicas, tecnológicas) e só no final de três anos podem optar por concluir o curso em uma área profissional especializada. A vantagem deste sistema é que ele evita a especialização precoce, antes de uma formação profissional ampla. O principal problema é que não existe uma titulação ao término do terceiro ano, e não há como transferir os créditos obtidos nestes anos para outra instituição. Para os alunos que passam por todo o processo, o formato é bem interessante, mas ele não abre oportunidades para os que buscam um acesso mais rápido e mais prático ao mercado de trabalho, ou só se interessem pela formação geral. Além disto, ele não incorpora, como deveria, os cursos profissionais curtos de nível superior (os cursos “tecnológicos” , na terminologia oficial brasileira) que nunca se desenvolveram significativamente no país mas que são uma alternativa muito importante, e frequentemente majoritária,nos modernos sistemas de educação superior de massas em todo o mundo.
A adaptação dos diferentes países europeus ao sistema de Bologna não tem sido fácil, e tem encontrado resistência sobretudo nas carreiras mais tradicionais como engenharia, medicina e direito, com seus longos e estabelecidos currículos, que temem que seus cursos sejam desfigurados. Existem diferentes formas de lidar com estas dificuldades, com diferentes adaptações, algumas simplesmente mudando a forma sem alterar o conteúdo dos cursos, mas outras efetivamente criando sistemas de educação superior muito mais flexíveis e mais adaptados ao mundo contemporâneo.
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