24 de julho de 2014

Escritoras criticam violência contra religiões africanas

"A violência em relação à população negra está tão generalizada que um dos maiores perigos é haver uma naturalização disso", diz escritora

Mariana Tokarnia, da ,24/7/2014
Valter Campanato/Agência Brasil
Escritoras criticam violência contra religiões africanas e mulheres negras
As ecritoras Paulina Chiziane,de Moçambique, e a brasileira Ana Maria Gonçalves participam da abertura do Festival Latinidades 2014: Griôs da Diáspora Negra
Brasília - Escritoras criticaram hoje (23) a violência contra as mulheres negras e as religiões africanas, na conferência Diálogos Afro-Atlânticos, que abriu o Festival Latinidades.

Para escritora moçambicana Paulina Chiziane, as religiõestidas como mundiais presentes na África estão levando ao desmantelamento da identidade africana.
Já a escritora brasileira Ana Maria Gonçalves disse que asmulheres são as que mais sofrem com a violência contra a população negra.
"A mulher negra é a que mais sofre. Na maioria das vezes é ela que está criando os filhos, sozinha. Ela se torna responsável pela segurança dos filhos, é ela que zela por essa proteção. Ela fica acordada quando o filho sai à noite e ela que dá uma série de recomendações aos filhos", disse a escritora.
De acordo com o Mapa da Violência 2014, as principais vítimas de mortes violentas no país são jovens do sexo masculino e negros. “A violência em relação à população negra está tão generalizada que um dos maiores perigos é haver uma naturalização disso".
Além de fazerem parte desse contexto, as mulheres negras recebem uma carga a mais, segundo a escritora, e, para isso, muitas vezes suportam relações abusivas.
"É o mito da mulher negra forte. Não sei o quanto tem feito bem a gente assumir essa condição. Não tem superpoder, não tem capa mágica para enfrentarmos situações onde a maioria das pessoas desabaria", comparou.
No mesmo debate, a moçambicana Paulina fez um alerta sobre a perda da identidade cultural no Continente Africano. "Vejo a colonização começar de novo através da religião". Segundo a escritora, as igrejas mundiais, como as cristãs e as islâmicas, têm perseguido as religiões africanas e discriminado os africanos que desejam se integrar a esses credos.
A escritora cita exemplos do cristianismo, no qual manifestações de espiritualidade por africanos são vistas pelas igrejas como algo diabólico e não como dons. "Igrejas ditas superiores estão a fazer o desmantelamento da identidade [africana]".
O segundo romance da brasileira Ana Maria Gonçalves, Um Defeito de Cor, de 2006, conquistou o Prêmio Casa de las Américas na categoria literatura brasileira.
Já Paulina Chiziane, iniciou a atividade literária em 1984, com contos publicados na imprensa moçambicana. Com o seu primeiro livro, Balada de Amor ao Vento, editado em 1990, tornou-se a primeira mulher moçambicana a publicar um romance. Sua obra mais recente é Por Quem Vibram os Tambores do Além, de 2013, sobre a vida espiritual dos curandeiros.
O Festival Latinidades 2014: Griôs da Diáspora Negra começou hoje (23) e vai até o dia 28 de julho, em Brasília. Na programação estão conferências, debates, feiras, saraus e shows, além de outras atividades. A programação completa pode ser acessada no site do evento, no endereçowww.latinidades.com.

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