8 de julho de 2014

ROSELY SAYÃO. A Copa como mediadora social


Vejo nas redes sociais mais fotos de pais e filhos reunidos do que de cada um deles sozinhos
E não é que a Copa funcionou como mediador social para um grande número de famílias?
Pela primeira vez, desde que começaram os jogos da Copa, vejo nas redes sociais que frequento, por exemplo, mais fotos de pais e filhos reunidos do que de cada um deles sozinhos. O que mais costumo ver são fotos dos filhos, publicadas pelos pais, ou fotos dos pais, publicadas por eles mesmos.
Nas fotos que tenho visto neste período, porém, dá para identificar a interação entre integrantes familiares, tendo como centro a Copa: são pais e filhos vestindo a mesma camisa de torcida, são famílias reunidas em frente à TV, torcendo juntos, são mães providenciando comes e bebes para acalmar a ansiedade da família durante o jogo etc.
Fora das redes sociais, também vi muitos pais conversando com seus filhos sobre os jogos, e discutindo também, quando tinham opiniões diferentes. Observei que muitos fizeram a tabela juntos e, inclusive, bolões só entre os integrantes da família. Teve filho que ganhou o bolão com seu palpite, e isso foi motivo para muitas brincadeiras entre eles. Ah! E caro leitor, você acredita que muitas crianças cantaram o nosso Hino junto com os pais, na sala de casa, no começo do jogo?
E tem mais: muitos pais, que são torcedores fanáticos do futebol e que costumam viajar para assistir aos jogos de seu time, desta vez fizeram a mesma coisa, mas com o grupo familiar. Arrisco dizer que o futebol, nesta Copa, conseguiu a proeza de integrar muitas famílias.
E isto é que é família: integrantes de todas as idades compartilhando a vida. Neste caso, o futebol representou a vida e atualizou, consolidou e até mesmo, em alguns casos, colaborou para o início do vínculo familiar. Em tempos em que o "eu" é mais importante do que o "nós", em que as crianças são jogadas, pelos próprios pais, em programas que só interessam aos adultos, sem mesmo que percebam isso, tem sido bem difícil para as famílias se integrarem como um grupo.
Percebo que muitas mães e muitos pais, em busca de uma maior proximidade com os filhos e de conhecê-los mais também, entabulam com eles conversas em que esperam que os filhos falem de si. Os pais perguntam, investigam, controlam, mas não conseguem muita coisa. Criança não costuma fazer o que chamamos de introspecção, e essa não é a melhor forma de conhecermos alguém, não é verdade? É que elaboramos uma teoria a nosso respeito, que nem sempre corresponde ao que somos de fato na relação com os outros.
É no relacionamento em conjunto, na convivência, e de preferência com mediadores --jogos, filmes, telejornais e novelas, fatos da vida, enfim-- que nos aproximamos de nossos filhos, que aprendemos a conhecê-los e a entender seus pontos de vista, suas expectativas, seus temores e suas angústias frente à vida.
Percebo com muita clareza a presença dos pais na vida dos filhos quando estes alcançam algum êxito ou quando fracassam em algo. Mas é no cotidiano, muitas vezes entediante e desgastante, que conseguimos tornar a família aquela panelinha que ela deve ser e que dura a vida toda.
E sempre é bom saber que não precisamos de Copa para isso: os afazeres domésticos diários, os trajetos percorridos juntos, os momentos de lazer ou de ócio também são bons mediadores sociais, não são? Basta aprender a usá-los como tal.
Folha de S.Paaulo, 8/7/2014

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