20 de março de 2011
Folha de S. Paulo
Fatia de desempregados com 11 anos ou mais de estudo passa de 39,4% em 2002 para 60% em 2010, mostra levantamento Procura por mão de obra menos qualificada e efeito estatístico da maior escolaridade explicam fenômeno CLAUDIA ROLLI ERICA FRAGA DE SÃO PAULO
Josué Carvalho dos Santos, pedreiro, sete anos de estudo, não fica sem trabalho há quase uma década. Janaína Alves, auxiliar de escritório, ensino médio completo, procura emprego há meses.
As diferentes trajetórias revelam o novo perfil do desemprego no Brasil. Em 2010, 60% dos desempregados tinham 11 anos ou mais de estudo, e 33,6%, até oito anos.
Esse retrato mostra mudança significativa em relação a 2002, quando os menos escolarizados (até oito anos de estudo) eram 53% dos desempregados e aqueles com, no mínimo, ensino médio completo eram 39,4%.
Os números constam em estudo feito pelo Insper, a pedido da Folha, a partir de dados de seis regiões metropolitanas. O novo perfil é confirmado por levantamento do Dieese em São Paulo, Salvador e Porto Alegre.
Em São Paulo, a fatia dos desempregados com ensino médio ou faculdade incompleta mais que dobrou entre 1999 e 2010: de 20,8% passou para 44%, segundo o Dieese.
Parte dessa mudança é consequência estatística do aumento da escolaridade.
"Houve queda grande no número absoluto de pessoas com pouca escolaridade e explosão no número dos que terminam o ensino médio", diz Naércio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper e autor do estudo.
INCENTIVO À FORMAÇÃO
Clemente Ganz Lucio, diretor do Dieese, diz que há busca por mais escolaridade: "Nos anos 80 e 90, o mercado caminhava para o desemprego e a precarização. Na última década, com o crescimento, aumentou a demanda por mão de obra e as pessoas se sentem incentivadas a investir em formação."
Mas a demanda dos empregadores não se restringe ao trabalhador com diploma.
A expansão da classe média tem sido acompanhada por procura maior por mão de obra menos qualificada.
"Caiu a oferta de mão de obra menos escolarizada, mas a procura subiu. Com a expansão da classe média, há mais demanda por empregadas domésticas e pedreiros", diz Menezes.
Para os especialistas, há ainda um descompasso de expectativas entre quem consegue se formar e as exigências de quem contrata.
Por um lado, há casos de trabalhadores que se acham qualificados demais para determinadas vagas.
"Não querem "sujar a carteira" aceitando qualquer trabalho", diz Ganz Lucio.
Por outro, há empresas que não encontram o perfil de funcionário que buscam.
"A formação é genérica, e o mercado, principalmente a indústria, busca profissionais mais técnicos", diz Simon Schwartzman, pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade.
No Brasil, 8,7% dos estudantes de nível médio têm formação técnica, segundo Censo Escolar de 2009. Na China, são 42,6%, e, no Chile, 37,2%, segundo a Unesco (dados de 2008).
|
Josué Carvalho dos Santos, pedreiro, sete anos de estudo, não fica sem trabalho há quase uma década. Janaína Alves, auxiliar de escritório, ensino médio completo, procura emprego há meses.
As diferentes trajetórias revelam o novo perfil do desemprego no Brasil. Em 2010, 60% dos desempregados tinham 11 anos ou mais de estudo, e 33,6%, até oito anos.
Esse retrato mostra mudança significativa em relação a 2002, quando os menos escolarizados (até oito anos de estudo) eram 53% dos desempregados e aqueles com, no mínimo, ensino médio completo eram 39,4%.
Os números constam em estudo feito pelo Insper, a pedido da Folha, a partir de dados de seis regiões metropolitanas. O novo perfil é confirmado por levantamento do Dieese em São Paulo, Salvador e Porto Alegre.
Em São Paulo, a fatia dos desempregados com ensino médio ou faculdade incompleta mais que dobrou entre 1999 e 2010: de 20,8% passou para 44%, segundo o Dieese.
Parte dessa mudança é consequência estatística do aumento da escolaridade.
"Houve queda grande no número absoluto de pessoas com pouca escolaridade e explosão no número dos que terminam o ensino médio", diz Naércio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper e autor do estudo.
INCENTIVO À FORMAÇÃO
Clemente Ganz Lucio, diretor do Dieese, diz que há busca por mais escolaridade: "Nos anos 80 e 90, o mercado caminhava para o desemprego e a precarização. Na última década, com o crescimento, aumentou a demanda por mão de obra e as pessoas se sentem incentivadas a investir em formação."
Mas a demanda dos empregadores não se restringe ao trabalhador com diploma.
A expansão da classe média tem sido acompanhada por procura maior por mão de obra menos qualificada.
"Caiu a oferta de mão de obra menos escolarizada, mas a procura subiu. Com a expansão da classe média, há mais demanda por empregadas domésticas e pedreiros", diz Menezes.
Para os especialistas, há ainda um descompasso de expectativas entre quem consegue se formar e as exigências de quem contrata.
Por um lado, há casos de trabalhadores que se acham qualificados demais para determinadas vagas.
"Não querem "sujar a carteira" aceitando qualquer trabalho", diz Ganz Lucio.
Por outro, há empresas que não encontram o perfil de funcionário que buscam.
"A formação é genérica, e o mercado, principalmente a indústria, busca profissionais mais técnicos", diz Simon Schwartzman, pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade.
No Brasil, 8,7% dos estudantes de nível médio têm formação técnica, segundo Censo Escolar de 2009. Na China, são 42,6%, e, no Chile, 37,2%, segundo a Unesco (dados de 2008).
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário