21 de março de 2011

A reforma educacional de Xangai


FERNANDO VELOSO
 
O sucesso chinês se baseou na mudança curricular e no compartilhamento da experiência de boas escolas
No final do ano passado foram divulgados os resultados da última edição do Pisa (2009), que avaliou o desempenho de estudantes de 15 anos de idade em exames de proficiência em leitura, matemática e ciências. Alunos de 65 países participaram da avaliação. Xangai, a maior cidade chinesa, foi a primeira colocada em todas as disciplinas.
Um estudo recente da OCDE, "Strong Performers and Successful Reformers in Education", analisou a reforma educacional de Xangai.
Em 1978, a China iniciou um processo de abertura e liberalização econômica, e Xangai teve um papel de liderança nas reformas, incluindo a do sistema educacional. O objetivo dessa reforma foi elevar o aprendizado em sala de aula.
O processo foi iniciado em meados da década de 80 com uma mudança curricular. O currículo atual tem três componentes: o básico, implantado por meio das disciplinas obrigatórias; um segmento de disciplinas eletivas; e um conjunto de atividades extracurriculares.
Essa reforma do currículo foi complementada por mudanças na formação inicial e continuada dos professores e pela renovação do material pedagógico. Os exames de proficiência dos estudantes também foram redesenhados.
Outro elemento importante da reforma de Xangai foi a criação de um sistema de avaliação das escolas. O governo avalia as escolas em termos de sua infraestrutura física e da qualidade da educação oferecida.
As informações sobre o desempenho das escolas são divulgadas de forma ampla, e a cobrança dos pais exerce uma forte pressão pela qualidade da educação.
Várias estratégias foram desenvolvidas para melhorar o desempenho das piores escolas. Sob o ponto de vista financeiro, recursos públicos são transferidos para as escolas mais carentes, de forma a assegurar um nível mínimo de gasto por aluno.
Professores e diretores de escolas urbanas de boa qualidade são transferidos para escolas rurais, que muitas vezes têm dificuldade de atrair professores.
Estratégia mais recente estabelece um contrato de gestão, por meio do qual uma escola de boa qualidade assume, durante um determinado período, a gestão de uma outra que tenha desempenho fraco.
Em essência, a reforma educacional de Xangai combinou elementos de responsabilização de professores e escolas com recursos para que as metas de qualidade do ensino sejam atingidas. Alguns aspectos da experiência de Xangai são específicos, como a valorização da educação na cultura chinesa, mas suas lições gerais são bastante relevantes para o Brasil e outros países que buscam melhorar a qualidade do ensino.
Fernando Veloso, 44, é economista e professor do Ibmec/RJ.
Folha de São Paulo

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