23 de março de 2011

Violencias nas escolas

23/03/2011 

Estudante diz que precisou mudar a aparência para superar bullying

Aluno de Curitiba afirmou que foi impedido de entrar na aula pelos colegas.
Na Austrália, briga entres estudantes virou hit na internet.

Vanessa Fajardo Do G1, em São Paulo
Um estudante de 15 anos, matriculado no 2º ano do ensino médio de um colégio de Curitiba, disse que para superar o bullying teve de mudar a aparência. Ele era magro, baixo e usava óculos. O estudante afirmou que por quatro anos foi vítima de bullying, que começou com vários apelidos até a exclusão dos colegas de sala.
Estudante que sofreu bullying em Curitiba mudou de escola e de aparência ( (Foto: Dom Bosco/Divulgação)Estudante que sofreu bullying no Paraná mudou de escola e de aparência ( (Foto: Divulgação)
"Ninguém sentava perto de mim, não conseguia fazer grupos de amigos. Uma vez fui impedido até de entrar na sala de aula”, contou.
O jovem disse que teve vontade de reagir como o estudante australiano Casey Heynes, de 15 anos, que bateu no colega Richard Bale, de 13 anos, que o provocava, mas não fez isto. “Ficava recuado, mas sabia que uma agressão não resolveria o problema. Além do mais, para mim não seria suficiente, ele teria de se conscientizar.”
O estudante disse que só contou o problema aos pais, quando levou um tapa dentro da van escolar, após discutir com um colega. “No início o sentimento era de que era uma brincadeira, que iria passar, mas depois veio o medo.”
Para superar o problema e ser respeitado, o aluno começou a nadar para criar massa muscular, abandonou os óculos e mudou o estilo. "Percebi que não poderia continuar do mesmo jeito, estava mal falado. Reclamei na direção, mais não tive retorno."
Atualmente o jovem estuda em outra escola e diz que não é mais vítima de bullying, mas toda vez que presencia algum caso, aconselha a pessoa a denunciar.
Para Gabriela (nome fictício), de 14 anos, estudante da 8ª série, a conscientização é a melhor forma de acabar com o problema. "Diálogo é fundamental e as pessoas têm de entender que bullying não é coisa do passado." A aluna afirmou que quando estava na 4ª série recebia apelidos por ser baixa, por usar óculos e por estar acima do peso. "Bullying é sempre ruim, me incomodava, mas não foi algo intenso."
Vítimas são tímidas
Cléo Fante, especialista em bullying e autora de livros sobre o tema, afirmou que geralmente as vítimas de bullying são tímidas, passivas e têm dificuldade de revidar a agressão como Heynes fez. “É mais fácil usar armas de fogo, facas, até drogas e álcool para criar coragem e reagir. Ou então a vítima costuma guardar até a idade adulta para se vingar.”
Cléo teme que a reação do garoto vire modismo nas escolas. “Não foi a ação correta porque violência gera violência. O caso poderia virar um acerto de contas e ter repercussões mais graves.”
Casey Haynes (no alto), reagiu ao bullying praticado por Richard Gale (Foto: Reprodução)Casey Haynes (no alto) reagiu ao bullying praticado
por Richard Gale (Foto: Reprodução)
Miguel Perosa, especialista em psicologia do adolescente e professor de psicologia da PUC-SP, confirma que a reação é bastante incomum. “Comum é a vítima se diminuir, se acovardar e se sentir diminuída.”
Para Perosa, apesar de a reação de agredir o colega não ser recomendada, a sensação de autoconfiança que trouxe ao garoto é positiva.
A reação ideal, segundo o especialista, seria a de denunciar o caso de bullying à direção da escola. “A criança precisa ser defendida, e o agressor modificado. A escola precisa tomar providências, mas em muitos casos, ignora mesmo após as denúncias.”
A orientadora do Colégio Dom Bosco, em Curitiba, Francisca Maria de Fauw, disse que as escolas precisam investir em campanhas de prevenção. "O papel das escolas é informar, debater." Para ela, a reação de Haynes demonstrava que ele estava no limite.

Casey Heynes bateu no colega Richard Bale, que o provocava, para se defender. O vídeo da agressão foi postado na internet e Heynes foi considerado por muitos internautas um "herói".
A briga aconteceu em uma escola australiana. No vídeo, Richard Gale aparece provocando Casey Heynes. Em seguida, dá um soco na cara do colega, que é maior do que ele. Casey reage, agarra Richard e o atira com toda força no chão. O menino teve ferimentos leves.

Em entrevista ao programa Today Tonight, exibido nesta segunda-feira (21) pela emissora australiana Seven Network, Richard diz que o vídeo, que faz sucesso no YouTube, não conta a história toda.
“Ele me provocou primeiro", diz Richard, que é menor e aparentemente bem mais frágil em relação ao colega que ele provocou. “Casey me chamava de ‘idiota da classe’. Eu estava muito bravo e só queria bater nele”, disse o garoto. Segundo Richard, o vídeo de 47 segundos postado na internet não mostra a parte em que Casey o provoca. “Ele me empurrou e saiu correndo.”
Durante a entrevista, Richard chega a chorar, mas não mostra estar muito arrependido em ter provocado o colega de escola que é bem maior do que ele. O menino revelou que também foi vítima de bullying na escola primária. “Não vale a pena praticar o bullying porque você pode acabar se machucando.”
Os pais de Richard também participaram da reportagem exibida na emissora australiana. O pai, Peter Gale, disse que o aconteceu foi “inacreditável.” “Está sendo muito difícil. Tento fazer a coisa certa para ele e ensinar as coisas certas.” Ele disse que a atitude de Richard está fora do caráter de seu filho. Apesar de não tolerar as suas ações, ele acredita que há algo a mais nesta história do que aparenta, e se preocupa por seu filho se tornar alvo de muitas críticas. “Não foi só o Richard, mas o Casey também. Os dois.”
A mãe, Tina Gale, pediu desculpas públicas à família de Casey. "Fiquei chocada ao ver meu filho agredindo o outro menino, e mais chocada ainda ao vê-lo ser jogado no chão. Meu filho podia ter ficado paraplégico."

Vítima do bullying, Casey deu entrevista para o programa "A Current Affair", do Channel Nine, e conta que é vítima de ofensas e agressões dos colegas há mais de três anos. "Me chamavam de gordo e davam tapas na minha nuca", conta o adolescente na entrevista.
No momento mais dramático da entrevista, Casey Heynes diz que pensou em suicídio por conta do bullying. Falando sobre o vídeo popular, ele diz que pensou nos três anos de ofensas e na raiva acumulada, e decidiu se defender como pôde.
IG

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