14 de março de 2011

O papel da família na Educação CLAUDIA COSTIN


Estudos evidenciam a relação direta entre escolaridade dos pais e sucesso escolar, o que poderia, de certa maneira, prognosticar triste destino às crianças nascidas em lares não letrados. Mas há também evidências de que parte deste resultado se dá pelo envolvimento de pais com maior formação na aprendizagem de seus filhos.
Assim, toda medida voltada ao aumento da participação da família no dia a dia da escola pública é bem-vinda.
Quando começamos este esforço para dar um salto na qualidade da Educação no município do Rio de Janeiro, uma das estratégias importantes foi envolver professores e famílias em todo o processo.
Não se faz reforma educacional indo contra o professor, peça-chave no processo. Da mesma maneira, não é possível transformar a aprendizagem sem um diálogo constante com pais.
Começamos com o estabelecimento de um currículo municipal claro que pudesse ser conhecido tanto pelos professores como pelos pais.
Para tanto, mesmo com a consciência de que muitos não acessam a internet (embora 75% dos alunos tenham computadores em casa), colocamos o currículo de cada disciplina, série a série, na rede. Elaboramos, também, cartilhas para os pais.
Uma primeira orienta os pais sobre como acompanhar os estudos dos filhos, entender o Ideb, as provas bimestrais e outras exigências da rede municipal carioca.
Cada escola organizou reuniões para ler a cartilha (alguns pais são iletrados) e complementar as orientações.
Outra procura explicar aos responsáveis o Regimento Escolar, um verdadeiro manual de convivência na escola. Enviamos também mais dois documentos: um com recomendações sobre como apoiar em casa o processo de alfabetização, para os responsáveis por alunos do primeiro ano, outro para os pais de adolescentes, sobre a educação escolar nesta rica fase de vida. O acesso ao currículo e a informações sobre como trabalhar com o aluno em casa tem mudado o tom das reuniões mensais feitas com o Conselho de Pais criado pela Secretaria de Educação.
Para a família das crianças menores, foi criada a Escola de Pais, onde recebem orientação sobre saúde, estimulação dos bebês e sobre fortalecimento de vínculos familiares.
Mas a grande mudança na relação com as famílias acontece com o Cartão da Família Carioca, um programa de transferência de renda, introduzido pelo prefeito Eduardo Paes para as famílias socialmente mais vulneráveis.
Para ter acesso ao valor, a criança deve ter presença em 90% das aulas e os pais devem frequentar as reuniões bimestrais. Se a criança tiver de 0 a 3 anos, devem participar da Escola de Pais.
Isso faz todo sentido: não há possibilidade de desenvolvimento saudável na primeira infância sem vínculos familiares fortes, cuidados com a alimentação e estimulação adequada.
Com cada vez mais crianças atendidas em creches, dando-se prioridade para os beneficiários do Cartão, e com o envolvimento das famílias haverá um nivelamento das desigualdades no desempenho escolar. Dar um salto na qualidade da Educação, neste contexto, será muito mais fácil e viável.
CLAUDIA COSTIN é secretária de Educação da Prefeitura do Rio de Janeiro.

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