Grande parte da população afro-brasileira já sofreu com situações de preconceito, de discriminação, enfim, com a violência simbólica. Essa situação infelizmente é constante e o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, celebrado em 21 de março, visa chamar a atenção sobre esse comportamento. Mas um estudo mostra que a população negra é a maior vítima também da violência física no País.
O Mapa da Violência 2011, documento produzido em parceria do Ministério da Justiça com o Instituto Sangari, revela que o Brasil é o sexto país mais violento do mundo, com uma média de 53 mortes a cada 100 mil habitantes, perdendo apenas para El Salvador, Ilhas Virgens, Venezuela, Colômbia e Guatemala. Dentre as vítimas dessa violência, a maioria é de homens, jovens e negros. O estudo mostra que de cada 3 jovens assassinados, 2 eram negros.
A tendência geral, segundo o estudo, é de queda no número absoluto de homicídios na população branca e de aumento na população negra. No período de 2002 a 2008, o número de vítimas brancas caiu 22,%. Já entre os negros, as mortes por homicídio aumentaram 20,2%.
JOVENS NEGROS – A pesquisa demonstra que grande parte das vítimas de homicídios no País é composta por jovens (39,7%), e que a morte de negros é muito maior do que a morte de brancos. Nos últimos anos, inclusive, o número de homicídios de brancos caiu 30%, enquanto o de negros aumentou 13%. Retrato da violência simbólica materializada.
O Mapa revela que há uma tendência de regionalização desses homicídios. No Nordeste, a proporção de vítimas negras é até 12 vezes maior do que a de vítimas brancas. Em alguns estados, os números se aproximam de características de extermínio: na Paraíba, campeã dessa triste estatística, são mortos (pasmem) 1.083% mais negros do que brancos. Em Alagoas, 974% mais. E na Bahia, os assassinatos de negros superam em 439,8% os de brancos.
SEGURANÇA – Julio Jacobo Waiselfisz, autor da pesquisa, levanta duas hipóteses para os índices de brancos e negros serem tão diferentes. A primeira delas, compartilhada por diversos especialistas, é que acontece com a segurança pública o mesmo que ocorre com a educação e a saúde: a privatização.
Assim como quem possui condições financeiras vai a escolas particulares, tem plano de saúde e, por isso, acesso a melhores hospitais, também se protege melhor do crime quem tem mais dinheiro. Grades, guaritas e carros blindados são itens caros, e, portanto, adquiridos pelos mais endinheirados.
“Tudo indica que as políticas que estamos desenvolvendo desde 2002 no setor de segurança, em muitos estados, se dirigem fundamentalmente aos setores mais abastados da sociedade”, critica o sociólogo. “Se a maioria dos negros é pobre, é óbvio que não serão beneficiados.”
RACISMO INSTITUCIONAL – A socióloga Luiza Bairros, ministra da Igualdade Racial, opina que o problema começa pela forma como os policiais são treinados para enxergar o negro. Muitos são os casos de jovens negros inocentes assassinados pela força policial por serem “suspeitos padrão” – termo cunhado pelo racismo institucional e discriminação oficializada.
“A imagem utilizada para compor o criminoso é calcada na pessoa negra, mais especificamente no homem negro. O negro foi caracterizado como perigoso em estudos de criminologia e o lugar onde ele mora é visto como suspeito. É automaticamente enquadrado nas três possibilidades de construção da suspeição: lugar, características físicas e atitude. Ou seja, como o racismo institucional existe, acaba moldando o comportamento de boa parte da corporação.”
Fontes: Mapa da Violência 2011, Globo News, Coletivo Quilombo
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