19 de julho de 2011

30 milhões de analfabetos funcionais


19 de julho de 2011 Estado de Minas | Opinião | MG

Vivina do C. Rios Balbino - Psicóloga, mestre em educação, professora da Universidade Federal do Ceará e autora do livro Psicologia e Psicologia Escolar no Brasil 

 Na recente 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a educação permeou vários debates e propostas. Mas, apesar do esforço do governo e pesquisadores, dados recentes da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) mostram o Brasil como o oitavo pior país no ranking de analfabetismo no mundo. São 14 milhões de adultos brasileiros analfabetos. No mundo são 67 milhões. Ocupamos a 7ª posição entre as potências econômicas, mas segundo a Unesco, ocupamos o 88º lugar em educação. Temos cerca de 30 milhões de analfabetos funcionais. Só um em cada quatro brasileiros de 15 a 64 anos pode ser considerado plenamente alfabetizado. A proporção de pessoas que não sabem ler ou escrever no Brasil é maior que a média na América Latina e no Caribe. Segundo o Ipea, 98% das crianças brasileiras de 7 a 14 anos hoje estão na escolas. Isso é fantástico, mas conter a evasão e oferecer ensino de qualidade é o desafio.






O Brasil investe R$ 1.900 por ano em cada estudante do ensino básico e R$ 13 mil em cada estudante do ensino superior. Em sete anos, o número de matrículas na educação superior aumentou de 3,5 milhões para 5,9 milhões. Grande investimento, mas quais são os grandes impactos de pesquisas e grandes projetos socialmente importantes das universidades? Temos uma rede pública de ensino superior excepcional e é fundamental que ocorram grandes retornos sociais para a melhoria da qualidade de vida dos brasileiros. Apesar dos grandes investimentos, infelizmente no último censo Times Higher Education, nenhuma universidade brasileira foi incluída nas 100 melhores do mundo.
Com o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego (Pronatec), o governo promete R$ 1 bi e criar mais 200 escolas técnicas até 2014. Desse total, R$ 700 milhões vão para bolsas de estudo e R$ 300 milhões para financiamento estudantil. Com isso, o governo espera reduzir um problema crônico para o crescimento dos serviços e da indústria nacional: a falta de mão de obra qualificada. Projeto ambicioso que contribuirá para o emprego e inclusão de milhões de brasileiros, mas que precisa ter excelente gestão do gasto público.
Educadores do Brasil, Índia, Coreia do Sul, Estados Unidos e Argentina se reuniram recentemente em Brasília e debateram o papel da educação na promoção do desenvolvimento e no combate às desigualdades sociais. É de fundamental importância que a educação seja efetivamente vista como inclusão social e qualidade de vida do povo. Uma recente pesquisa da Associação dos Magistrados do Brasil, Justiça em números - novos ângulos, de Maria Tereza Sadek, revela a relação direta entre nível de escolaridade e busca dos direitos na Justiça. A autora comenta que a alfabetização implica maior conhecimento dos direitos e as pessoas procuram mais a Justiça. Nos estados mais pobres, com maior número de analfabetos, há menor procura pela Justiça. Segundo o presidente da AMB, as pessoas mais esclarecidas reivindicam mais os seus direitos e têm noção de cidadania. Um bom projeto nacional de educação necessariamente tem que incluir conhecimentos de direitos humanos e cidadania. Piero Massimo Forni, especialista em civilidade pela Universidade Johns Hopkins, afirma que a falta de civilidade nos EUA custa 30 bilhões de dólares por ano. Quanto custa no Brasil a falta de civilidade e cidadania? E o que isso tem a ver com educação de qualidade? Além do desenvolvimento, crescimento econômico, melhoria da vida dos cidadãos, uma educação de qualidade terá grande impacto também na redução de violências e na criação de atitudes cidadãs. O indivíduo bem alfabetizado é um cidadão sábio, crítico e se posiciona de forma positiva nas relações sociais aumentando o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da nação - menos criminalidade e maior qualidade da vida. É essa importante cadeia qualitativa da educação, que diferencia uma grande nação. Educação de qualidade para todos em todos os níveis de escolarização é preciso!

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