16 de setembro de 2012

No Norte e Nordeste, 25% dos jovens estão parados







Falta de perspectiva. Os irmãos Juliana e Rafael da Silva, com o filho dele, Igor. "Não sei se vou tentar vestibular, nem cursinho estou fazendo", diz Juliana

Maranhão tem o maior percentual entre os estados brasileiros: 29%

Fabiana Ribeiro
fabianar@oglobo.com.br
Letícia Lins
leticia.lins@oglobo.com.br, O Globo, 16,9,2012

A GERAÇÃO DOS 'NEM-NEM'


Rio e Recife Se a parcela de jovens fora da escola e do trabalho cresce nas famílias de mais baixa renda, a inatividade também é maior nas regiões Norte e Nordeste, onde 25,2% e 25,1%, respectivamente, dos jovens não estudam nem trabalham, aponta o estudo do Iesp-Uerj. No Maranhão, essa parcela é de 29,2%, a maior do país. Na outra ponta, em Santa Catarina, são 10,7%.
- No Sudeste (16,8%), o que se nota é que a economia segue crescendo, mas não tanto para os jovens. Já o Sul (13,1%) tem uma população mais bem qualificada e um mercado de trabalho mais bem desenvolvido - disse Adalberto Cardoso, coordenador do estudo.
Em Recife, nos bairros populares, é comum encontrar jovens longe da escola e sem trabalho. Como os irmãos Juliana, de 24 anos, e Rafael Gomes da Silva, de 20 anos. Eles moram em um pequeno vilarejo à margem do Rio Capibaribe. De quatro irmãos, só Juliana concluiu o ensino médio.
Rafael não passou nem um ano na escola, não sabe ler e aprendeu recentemente com Juliana a assinar o nome. Ele, que tem um filho de 1 ano, Igor, já teve carteira assinada, como servente, mas no momento está desempregado. Juliana, que estudou em escola pública, não conseguiu aprovação no Enem. Sonha em fazer Veterinária, mas não se sente preparada para o vestibular:
- Não sei se vou tentar vestibular, nem cursinho estou fazendo.
Juliana fez um curso de informática, mas não se adaptou. Depois arranjou emprego de balconista em uma padaria, mas desistiu: o patrão não queria assinar sua carteira, não dava dinheiro para o ônibus, não fornecia lanche nem água. Desde então, ela não faz nada. A família é sustentada pelo pai, que é areeiro (tira areia do leito do Rio Capibaribe para vender a armazéns de construção).
Rafael deixou a escola quando seus vizinhos saíram. Tinham entre 9 e 12 anos. Aos 16, ele tentou um programa de alfabetização para jovens e adultos, mas em menos de um mês desistiu.


Enquanto isso, país amarga escassez de mão de obra
O contingente de 5,3 milhões de jovens inativos no Brasil ocorre num momento em que o país tem baixas taxas de desemprego e os empresários se queixam de escassez de mão de obra.- É um desperdício de recurso, especialmente no momento econômico do país - disse Naércio Menezes, professor de economia do Insper, acrescentando que, quando o jovem deixa de enxergar os benefícios da educação, ele deixa de ter um futuro melhor.
Essa geração perdida vai fazer falta para um crescimento sustentado, advertiu Paulo Levy, economista do Ipea. Ele explica que as empresas terão que aumentar a produtividade dos que estão trabalhando.
Mas o crescimento econômico do país também permite que uma ínfima parcela desse contingente tenha respaldo em casa para pensar na carreira. Além disso, na chamada "geração canguru" os jovens deixam a casa dos pais mais tarde. Nesse universo, estão pessoas que se preparam para concursos públicos ou tiram um sabático para viajar. O Iesp-Uerj só considerou quem não frequenta a educação formal.
Natália de Miranda, de 24 anos, estuda em casa para o concurso para magistratura do trabalho:
- Estudo de seis a oito horas por dia e, muitas vezes, ainda ouço que não estou fazendo nada.
Mas o cenário pode ser ainda pior. Ao incluir os jovens que buscam trabalho mas não conseguem, os 5,3 milhões saltam para 7,2 milhões. Ou seja, a cada quatro jovens entre 18 e 25 anos, um está parado. (Fabiana Ribeiro)

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