16 de setembro de 2012

Para professor de Cambridge, jovens ficaram à margem do crescimento



'O futuro de longo prazo está em risco'

Fabiana Ribeiro
fabianar@oglobo.com.br, O Globo, 16/9/2012

O economista e professor da Universidade de Cambridge alerta que o Brasil deixa de investir na sua maior riqueza, que é o seu povo. E que o país precisará desses jovens para sustentar, no futuro, uma população que está envelhecendo
Os jovens foram deixados à margem do crescimento, resumiu o economista e professor da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, Flávio Comim. E isso trará consequências para um país que está envelhecendo. Para ele, que é também consultor da Unesco no Brasil e do Pnud no Panamá, a sociedade como um todo deveria se ocupar mais dos jovens.
O que esse percentual tão alto de jovens que não estudam ou trabalham representa? Que consequências sociais o país terá no futuro?
Como sociedade, não estamos dando o devido apoio aos jovens. O futuro de longo prazo, no qual os jovens deverão sustentar com maior produtividade no trabalho uma população que está envelhecendo no Brasil, está em risco. E fica pior com as desigualdades regionais. Ser jovem no Norte ou Nordeste é muito mais uma sentença de subdesenvolvimento do que no Sul do país. Podemos, assim, ter um crescimento de curto prazo sem formação de riqueza futura.
Estamos em era de escassez de mão de obra. O que significa para o país ter esse contingente sem formação?
Que o país descuida de investir na sua maior riqueza, seu povo. A grande questão é como investir na educação. Estudos mostram que existem períodos críticos para os investimentos e que, depois de certa idade, eles já não dão o mesmo retorno. O problema dos "nem-nem" é, de certo modo, mais grave do que o da falta de estimulação das crianças, pois os retornos educacionais serão mais baixos ou mais custosos. A falta de investimento na juventude tem impacto econômico e social. Nos jovens com menos educação, há maior incidência de gravidez na adolescência, maiores índices de violência, pior inserção no mercado de trabalho, além dos impactos na consolidação de padrões desiguais no tecido social brasileiro.
Parte desses jovens perdeu a esperança de achar trabalho. Não é um desalento precoce, ainda mais num país com baixo desemprego?
Estar desempregado num país com taxa de desemprego baixa é sinal de que a pessoa foi deixada à margem do processo. Não podemos julgar o progresso do Brasil só pelos números agregados, mas sim pelo que acontece com seus cidadãos. O país não está bem quando juventude e infância são descuidadas.
Como tirar os jovens dessa condição? Faltam políticas públicas?
A concepção de política pública focada na responsabilidade exclusiva dos governos é, na minha opinião, totalmente equivocada. A esfera privada não pode ficar fora da discussão de soluções para resolver o problema da educação e da juventude. A educação dos filhos deveria ser a prioridade de todos os pais. Em alguns casos, simplesmente não existem escolas, mas em outros, a maioria, o problema é de baixa qualidade da educação. Muitas das políticas públicas estão conceitualmente corretas. Somos muito bons no papel. Precisamos implementá-las.

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