As manifestações embolaram ricos e classe média, velhos e jovens, letrados e uma minoria arruaceira. O movimento paulista é de jovens de periferia que nem são adolescentes em situação de risco, que roubam tênis de R$ 500 dos "riquinhos", nem se contentam em serem olhados como cidadãos de segunda categoria. Querem igualdade, ocupar espaços, gritar e ser ouvidos.
Os que invadiram as ruas --contra o aumento de tarifas de ônibus e/ou por exaustão contra a corrupção e as mordomias - foram recebidos com perplexidade, depois borrachadas, e só cresceram. Deixaram seu recado, retiraram-se quando os vândalos ocuparam a cena pública e continuam assombrando o sono da presidente, de governadores e prefeitos.
Os que agora invadem os shoppings contra a discriminação e o preconceito refletem a grande maioria e se organizam, também sem líderes, para "zoar, dar uns beijos, rolar umas paqueras" ou "tumultuar, pegar geral, se divertir, sem roubos". Ou seja: botar a cara de fora, curtir as férias e dividir o ar condicionado. Também foram recebidos com perplexidade, agora com borrachadas e tendem a se multiplicar por outros Estados.
Não administro shoppings, não tenho loja nem moro em São Paulo, mas, à distância, acho inacreditável a reação contra a garotada e os "rolezinhos". Proibir aglomeração em locais públicos? Fazer triagem? Jogar a polícia em cima? Reprimir com cassetete? É lenha na fogueira.
Se alunos de bairros ricos (que não têm mais a ALN, a Polop, o partidão, nem ditadura, para protestar) decidirem aderir, vai ficar engraçado. Mesmo que não, como deixar uns entrarem e os outros não nos shoppings? Pela cor, roupa, sapato ou o jeitão? Talvez os cifrões na carteira...
Não vai dar certo. E a Copa vem aí.
Folha de S,.Paulo, 14/1/2014
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