10 de setembro de 2011

ZUENIR VENTURA - E assim se passaram dez anos

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O 11 de setembro foi o trailer do século XXI no que este podia oferecer de pior até agora: o terror. Não que o flagelo tenha sido invenção dos atentados de 2001, que completam amanhã uma década. Ele é antigo. Mas a destruição das Torres Gêmeas inaugurou o terrorismo em forma de espetáculo, um espetáculo de pavor em que o suicídio foi usado como meio de extermínio em massa. Aquilo de que o homem sempre fugiu, a morte, passou a ser buscado pelos homensbomba como redenção — um capítulo mórbido em que Tanatos, o instinto da destruição, derrota Eros, o instinto de conservação.

Os ataques produziram efeitos políticos, militares, ideológicos, psicológicos e culturais que duram até hoje. No plano militar, a doutrina da guerra preventiva de Bush, ou seja, atacar antes de ser atacado por um inimigo real ou imaginário, provocou dois sangrentos conflitos que já custaram mais de US$ 1 trilhão e milhares de mortes: o do Afeganistão, que começou ainda em 2001, e o do Iraque, em 2003. O primeiro tinha como objetivo desmantelar o talibã e prender Osama Bin Laden, mentor dos atentados. O segundo pretendia prender o ditador Saddam Hussein e destruir as supostas armas nucleares que ele teria armazenado. As duas encarnações do mal foram eliminadas, mas o terrorismo, não.

No plano político, a ação dos criminosos provocou um efeito paradoxal, fortalecendo quem eles queriam combater, pois a bandeira do medo foi o grande cabo eleitoral da reeleição de Bush. Mas o medo foi também, do ponto de vista psicológico, a pior consequência para os americanos. Depois da incredulidade e do estarrecimento, veio a paranoia, ou o temor permanente de uma repetição do trauma a qualquer momento. O próprio presidente Barack Obama confessou- se há pouco temeroso de um novo atentado, não “massivo” e “organizado”, mas perpetrado pelo que chamou de “lobo solitário”, como o de Oslo, que executou 70 pessoas.

Não ter havido nos Estados Unidos outra tragédia em igual escala à de 2001 pode levar à conclusão de que isso se deve às drásticas medidas de segurança que aboliram ou restringiram virtudes e direitos caros à democracia, como privacidade e liberdade de ir e vir. Resta saber se terá valido a pena enterrar tantos corpos e dólares em território inimigo com guerras que não terão vencedores e nem vão suprimir do mundo o extremismo e o terror. Direta ou indiretamente, os efeitos nocivos do 11/9 contribuíram para o agravamento da crise financeira e para o processo de rebaixamento do poder imperial dos EUA. Os americanos estão deprimidos porque, segundo o Prêmio Nobel Paul Krugman, “perderam a fé no progresso e no crescimento”.

Há dez anos foram vítimas do ódio; agora são reféns do próprio medo e da desconfiança.

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