22 de setembro de 2012

Saídas na Educação , ANDERSON GOMES


de 

Bons resultados são possíveis com
professor em dedicação exclusiva,
remuneração diferenciada, e
estudantes com alternativas,
incluindo qualificação profissional

A divulgação do relatório do Todos pela Educação, movimento criado pela iniciativa privada em 2006 e que acompanha e analisa dados educacionais e os compara com metas projetadas para serem atingidas até 2022, mostrou números preocupantes na maioria dos indicadores analisados e suscitou muitas opiniões. Mais recentemente, a divulgação do Censo 2011 pelo Inep também aponta dados desafiadores para o ensino médio no país. A evolução no sistema educacional existe, mas é lenta, conforme constatado. Dois gargalos principais foram identificados: pré-escola e ensino médio. Em ambos, quantidade e qualidade preocupam.

No ensino médio, foco deste artigo, em um dos comentários publicados na mídia, o professor Francisco Soares, da UFMG, diz que “é necessário que o ensino médio seja repensado para que mais estudantes permaneçam na escola”. O governador Eduardo Campos, desde sua primeira gestão, percebeu que o ensino médio seria possivelmente o maior desafio dentre as etapas da educação básica para assegurar uma Educação de qualidade para todos os pernambucanos.

Na sua visão de dar continuidade às boas políticas públicas, deixando de lado a indesejável descontinuidade, iniciou um processo de universalização do modelo, implantado em 2005, das escolas de ensino médio de tempo integral; para os alunos impossibilitados de estudar nesse regime, foi oferecido o modelo semi-integral.

Pernambuco começou o ano letivo de 2012 com 217 escolas de tempo integral e semi-integral, atendendo a 103 mil estudantes da rede estadual de ensino. Até 2014, a meta é que todos os estudantes do ensino médio possam optar pelo regime de estudo integral ou semi-integral.

É importante salientar que, nessas escolas, o professor tem dedicação exclusiva e remuneração diferenciada. Os estudantes têm, além do conteúdo básico, diversas alternativas de atividades extraclasse, incluindo qualificação profissional. A partir de 2011, 24 mil estudantes passaram a ter acesso a curso intensivo de inglês ou espanhol, e, a partir deste ano, mil estudantes começam a participar de um programa de intercâmbio internacional (recursos próprios do estado). Os resultados desta decisão já estão aparecendo, apesar do pouco tempo.

O resultado do Idepe 2011, equivalente estadual do Ideb e com a mesma metodologia, mostrou que os estudantes que concluíram o ensino médio nas escolas de tempo integral tiveram um desempenho bem melhor no Idepe. Alunos que ainda estão nas escolas de ensino médio tradicionais tiveram, em média, 3,3 no Idepe, enquanto os alunos de tempo integral obtiveram um Idepe de 4,7.

Comparado ao Ideb, esta meta 4,7 está além da prevista para 2021, que é de 4,5, inclusive já alcançada desde 2010 nestas escolas, como resultado da qualidade do ensino oferecido, em termos do modelo pedagógico implantado. Este fato reflete-se também no número de estudantes tendo acesso ao ensino superior, seja pelo Enem ou por vestibular.

Um segundo aspecto foi também importante: a introdução, desde 2008, do bônus educacional por meritocracia.

Pelos resultados alcançados, os professores dessas escolas têm sido largamente beneficiados. O Banco Mundial realizou um estudo em vários estados sobre impacto de políticas equivalentes, e demonstrou que em Pernambuco este impacto foi positivo na evolução do desempenho educacional na rede estadual.

Um terceiro aspecto, que está se concretizando em 2012, é o emprego adicional de ferramentas tecnológicas para uso pedagógico. Entretanto, esta iniciativa foi universalizada para todos os professores da rede estadual, não apenas para aqueles das escolas de tempo integral ou semi-integral. Hoje os professores têm seus notebooks, além de vídeos e softwares como mecanismos de apoio pedagógico às suas aulas nas diferentes disciplinas. Associado a este esforço de formar o professor digital para o século XXI, foi lançado um concurso professor-autor, através do qual os professores da rede estadual submetem material de apoio pedagógico para todas as disciplinas do ensino médio, na forma multimídia (power point).

O que o relatório do Todos pela Educação provocou nos vários comentários de especialistas foi mostrar a necessidade de resgatar a qualidade do ensino/aprendizagem no ensino médio, motivando e animando os estudantes a “gostarem” da sala de aula e assimilarem de forma adequada os conteúdos curriculares.

As ações concretas, implementadas e em andamento na rede estadual de Pernambuco podem não ser a resposta para todas as questões, mas certamente estão apontando políticas públicas cujos resultados começam a surgir no desempenho escolar.

 Anderson Gomes é secretário de Educação do estado de Pernambuco e professor de Física da Universidade Federal de Pernambuco andersonslgomes@gmail.com

O GLOBO
21/09/2012 

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