22 de setembro de 2012

País tem mais jovens fora da escola e do mercado de trabalho


Em dois anos, população na faixa entre 15 e 17 anos que não estuda e nem trabalha passa de 85,2% para 83,7%

22 de setembro de 2012 | 3h 11
FELIPE WERNECK / RIO - O Estado de S.Paulo
A Pnad do IBGE revela aumento na proporção de jovens que não estudam nem trabalham no País. Em 2009, 85,2% da população de 15 a 17 anos frequentava a escola. Dois anos depois, esse porcentual caiu para 83,7%, interrompendo uma tendência de crescimento da taxa de escolarização nessa faixa etária que era verificada desde 2005.
O número absoluto de estudantes de 15 a 17 anos se manteve estável em 8,8 milhões de 2009 para 2011, apesar de ter havido um aumento da população desse grupo no período. A explicação para a queda da taxa de escolarização entre os jovens não é a ida para o mercado de trabalho formal, afirma a gerente da pesquisa, Maria Lucia Vieira.
Segundo a Pnad, os jovens de 15 a 17 anos representavam 3,1% da população ocupada no País em 2009, participação que caiu para 2,8% em 2011, uma variação negativa de 11,1%. Em termos absolutos, houve uma diminuição no período de 319 mil pessoas dessa faixa etária trabalhando.
"Não conseguimos investigar exatamente a causa, mas a princípio eles não trabalham e não estudam", acrescenta Maria Lucia.
Para o economista Cláudio Moura Castro, a queda da taxa de escolarização entre os jovens reflete uma crise no ensino médio. "A matrícula está caindo porque o (ensino) médio é muito ruim, é chato. As pessoas desanimam", diz ele. "A explicação consensual é de que se trata muito mais de uma expulsão do médio que atração pelo mercado de trabalho", acrescenta Castro.
Segundo ele, estatísticas de censos educacionais indicavam "estagnação e contração". "A queda não é dramática, mas a gente esperaria uma expansão contínua." Para Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE, o ensino médio é pouco estimulante e a perda de alunos é consistente. Ele lembra que o abandono é maior entre os homens.
A atual presidente do IBGE, Wasmália Bivar, avalia que a população adolescente ainda precisa de incentivos e políticas mais específicas para que a permanência na escola ocorra de fato. "Trata-se de um desafio, de uma mudança quase cultural, para que o adolescente troque a renda de hoje por uma renda melhor no futuro por meio da educação", acrescenta.
Entre as crianças de 6 a 14 anos, a taxa de escolarização teve um aumento de 0,6 ponto porcentual, passando de 97,6% para 98,2% no mesmo período analisado pela pesquisa.
Analfabetismo. A Pnad também mostra que o País ainda tem 12,9 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais de idade. "Não há campanha que mude os números de analfabetismo. Quem resolve é Deus. A queda é mecanicamente previsível. Não vai haver surpresa", diz Moura Castro. Do total de analfabetos, 8,2 milhões (63%) tinham 50 anos ou mais em 2011.
Wasmália reconhece que o desafio é grande por causa da grande fatia de população analfabeta envelhecida, mas considera expressiva a queda de 1,1 ponto porcentual da taxa de analfabetismo em relação a 2009, quando comparada com movimentos anteriores.
O contingente de analfabetos está concentrado no Nordeste, especialmente na população idosa. Apesar das quedas sucessivas nos últimos anos, a região apresentou em 2011 uma taxa que atinge quase o dobro da média nacional (16,9%, ante 8,6%). Há 6,8 milhões de analfabetos no Nordeste, mais da metade (52,7%) do total do País.
A Pnad traz também a variação na rede pública de ensino, que em 2009 foi responsável pelo atendimento a 87% dos estudantes do nível fundamental, 86,4% do nível médio e 23,3% do nível superior.
Em 2011, o porcentual foi o mesmo no ensino fundamental, oscilou para 87,2% no nível médio e subiu para 26,8% no ensino superior. Ou seja: apesar do aumento nos últimos dois anos, a rede privada atende a 73,2% dos estudantes universitários. Apenas 6,6 milhões de estudantes cursavam o ensino superior no País em 2011. / COLABOROU FERNANDO DANTAS

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