19 de setembro de 2012 | 3h 05
OCIMARA BALMANT - O Estado de S.Paulo
Mais da metade das escolas de ensino fundamental e médio consultadas pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo (56%) rejeitou o modelo de tempo integral para 2013. Das 76 escolas convidadas oficialmente pela secretaria, apenas 32 aceitaram aderir ao projeto. Atualmente, no Estado, 16 escolas de referência já testam o tempo integral no ensino médio.
Os dados são de um levantamento da ONG Observatório da Educação a ser divulgado hoje e mostram que uma das principais promessas eleitorais de candidatos à Prefeitura de São Paulo - ampliação das escolas de tempo integral - pode não ser o que querem os principais envolvidos na questão: alunos e professores.
Para aderir ao programa, é preciso aprovação do Conselho Escolar, que reúne funcionários, docentes, pais e alunos. A recusa dos alunos do ensino médio se deve, na maioria dos casos, ao desinteresse por mais aulas das mesmas disciplinas e à falta de disponibilidade de tempo. Muitos precisam trabalhar e não poderiam passar o dia no colégio. Como, em alguns casos, essa escola é a única da região, esses estudantes teriam de se deslocar para outra área da cidade para poder frequentar as aulas (mais informações nesta página).
A análise dos números do levantamento mostram, no entanto, que o porcentual de recusa não se deve apenas a essas particularidades do estudante do ensino médio. Das escolas de ensino fundamental convidadas, o porcentual de rejeição foi parecido: 53%.
É aí que entra o peso da oposição da direção e do corpo docente ao ensino integral. A recusa tem por base questões de adaptação da infraestrutura - nem toda escola tem um refeitório apropriado e teria de diminuir o número de alunos -, mas, segundo os pesquisadores, esbarra principalmente, na questão da carreira docente e na falta de vontade dos gestores de participarem de um projeto que não ajudaram a construir.
Quanto aos professores, para lecionarem nas escolas de tempo integral, eles devem ser efetivos, ter dedicação exclusiva e passar por uma seleção. Quem não atender aos requisitos é transferido - critérios que contrariam a categoria. Ontem, após ação do sindicato dos docentes (Apeoesp), um juiz deu 72 horas para que a Secretaria de Educação preste explicações sobre a remoção dos professores das escolas nas quais o programa será implementado.
Continuidade. "Nesse levantamento, vimos que a participação da comunidade na construção de uma política pública é um fator de qualificação que aumenta muito a adesão e a efetividade na ponta do processo", avalia Denise Carreira, coordenadora da Ação Educativa. "Além disso, há um receio de que seja mais um programa de governo que não tem continuidade após as eleições."
Por isso, diz Anna Helena Altenfelder, superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), é preciso ampliar o debate e fomentar a discussão. "Temos de considerar essas questões, mas não podemos achar que a educação integral é uma vilã. Se queremos qualidade, o ensino integral é uma ideia a ser defendida, sempre. Mas é preciso que tenha um significado próprio."
Em nota, a secretaria lamenta o "caráter eleitoreiro" do levantamento e diz que "um dos princípios dessa iniciativa é justamente contar com a adesão voluntária das comunidades escolares, tendo em vista que o sucesso desse novo modelo de ensino". Prossegue a nota: "É preciso trabalhar para que a sociedade compreenda a importância do tempo integral para a melhoria da qualidade da educação. Por outro lado, neste modelo, os alunos permanecem o dia todo na escola, com uma jornada diária estendida e com atividades que vão além do currículo básico, como orientação de estudos, elaboração de seus projetos de vida e aulas específicas que irão prepará-los, tanto para o mundo acadêmico quanto para o mundo do trabalho".
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