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RIO e RECIFE — Ao contrário do que acontece com as crianças, há menos adolescentes na escola. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), a taxa de escolarização do grupo de 15 a 17 anos de idade — que deveria estar no ensino médio — caiu de 85,2% para 83,7% em dois anos. Com isso, o país convive com 1,72 milhão de jovens fora da escola. Já na faixa de 4 a 5 anos, a escolarização cresceu, passando de 74,8% para 77,4%.
— Como o nível de ocupação de 15 a 17 anos de idade também reduziu, eles não foram para o mercado de trabalho. A princípio, eles não trabalham e não estudam — diz Maria Lucia Vieira, gerente da Pnad.
Da evasão escolar ao desalento, passando pela gravidez precoce, não são poucos os motivos que — conforme mostrou reportagem do GLOBO no domingo passado — fazem com que grande parcela da juventude brasileira nem estude nem trabalhe, os “nem-nem”
— O Brasil ainda não conseguiu universalizar o ensino médio e, isso, sem dúvida, é um quadro muito preocupante. É uma geração chave, que está desiludida quanto ao ensino, e se perde. Contudo, houve avanços que não podem ser subestimados — diz Naércio Menezes Filho, professor do Insper.
19,2 milhões não têm instrução
Para Wasmália Bívar, presidente do IBGE, essa população é um desafio:
— Ainda é preciso incentivo de políticas mais específicas, para que a permanência na escola ocorra de fato. Estimulado pelo próprio aquecimento da economia (em 2010, o país cresceu 7,5%), o acesso ao trabalho remunera melhor. O desafio é fazer o adolescente trocar a renda de hoje pela renda melhor no futuro.
Sergei Soares, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), destaca a importância do crescimento da pré-escola. A parcela de crianças de 4 ou 5 anos na escola cresceu de 74,8% para 77,4%:
— Essa escola atende à população mais pobre.
Após considerar como “muito positivos para a educação” os dados da Pnad, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, disse que o governo aposta em várias medidas para diminuir a evasão, como a ampliação do Programa Bolsa Família para quem tem filhos até 17 anos, investimento no ensino profissionalizante e ações para reduzir a gravidez na adolescência.
— Estamos falando de mais de 300 mil meninas que ficam grávidas nessa faixa etária (do ensino médio) — diz o ministro, que defende a reformulação do currículo. — O ensino médio é uma estrutura enciclopédica que precisa ser reavaliada.
Dados da Pnad mostram que 19,2 milhões de pessoas (11,5% do total) com mais de 10 anos não têm qualquer instrução ou estudaram por menos de um ano. Na outra ponta, só 6,6 milhões de brasileiros estavam matriculados no ensino superior, sendo que 73,2% desse total estudavam na rede privada.
— O futuro, dependente da formação de riqueza humana, está comprometido com menos jovens matriculados nas escolas. A política de aumento de renda e emprego a curto prazo parece estar sendo deletéria à formação de capital humano. O aluno fora da escola hoje significa o problema social amanhã — diz Flavio Comim, consultor da Unesco do Brasil. — Essa Pnad mostra a miopia social do país que subinveste em bens públicos e descuida da formação de riqueza humana. O emprego de hoje não pode ser conseguido às custas da redução do capital humano do amanhã.
Analfabetismo acentua queda
Ainda que o país some 12,9 milhões de pessoas que não sabem ler nem escrever, a taxa de analfabetismo brasileira caiu de 11,4% em 2004 para 8,6% em 2011. Em 2009, a taxa foi de 9,7%. Ou seja, no ano passado, houve uma queda mais forte do que vinha sendo registrado anteriormente. E o analfabetismo se concentra na população mais velha: mais de 60% dos analfabetos têm mais de 50 anos.
— A taxa de analfabetismo vinha caindo muito lentamente. Entre 2009 e 2011, a redução é expressiva frente aos movimentos anteriores. Mostra a efetividade de políticas que antes demoraram a aparecer — diz Wasmália.
As estatísticas também dão conta do analfabetismo funcional, representado por pessoas com 15 anos ou mais que tenham menos de quatro anos de estudo completos. Neste caso, 20,4% das pessoas dessa faixa etária se encaixam neste perfil. Se comparada com os indicadores de 2009, a marca foi considerada estável.
— A taxa de analfabetismo cai em todas as unidades da federação. Essa taxa está bastante concentrada no Nordeste, na população mais idosa. É um problema de estoque. O desafio da educação está em sensibilizar a população com 50 anos ou mais a se escolarizar. É nesse grupo que se concentra a maior parte dos analfabetos — diz Maria Lúcia.
Em anos de estudo, o avanço foi mais lento. Os números mostraram que a população brasileira de 10 anos ou mais atingiu uma média de 7,3 anos de estudo, contra 7,2 anos em 2009.
Trabalhando na enxada desde os 8 anos em um sítio de Sairé, a 135 quilômetros de Recife, Maria do Carmo da Silva, 43, foi ser doméstica na capital aos 11 anos. Em Recife, tentou conciliar escola e trabalho, mas não conseguiu: desistiu, casou, teve dois filhos. Quando os meninos foram para a escola, ela tentou estudar em casa pelas lições das crianças. E aprendeu as primeiras letras e sílabas. Mas ler e escrever ela só conseguiu há dois anos, na escola Estadual Santo Antônio:
— Ler mesmo, entender tudo, escrever, posso dizer que foi aqui que aprendi, em 2010, na quarta série.
— Como o nível de ocupação de 15 a 17 anos de idade também reduziu, eles não foram para o mercado de trabalho. A princípio, eles não trabalham e não estudam — diz Maria Lucia Vieira, gerente da Pnad.
Da evasão escolar ao desalento, passando pela gravidez precoce, não são poucos os motivos que — conforme mostrou reportagem do GLOBO no domingo passado — fazem com que grande parcela da juventude brasileira nem estude nem trabalhe, os “nem-nem”
— O Brasil ainda não conseguiu universalizar o ensino médio e, isso, sem dúvida, é um quadro muito preocupante. É uma geração chave, que está desiludida quanto ao ensino, e se perde. Contudo, houve avanços que não podem ser subestimados — diz Naércio Menezes Filho, professor do Insper.
19,2 milhões não têm instrução
Para Wasmália Bívar, presidente do IBGE, essa população é um desafio:
— Ainda é preciso incentivo de políticas mais específicas, para que a permanência na escola ocorra de fato. Estimulado pelo próprio aquecimento da economia (em 2010, o país cresceu 7,5%), o acesso ao trabalho remunera melhor. O desafio é fazer o adolescente trocar a renda de hoje pela renda melhor no futuro.
Sergei Soares, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), destaca a importância do crescimento da pré-escola. A parcela de crianças de 4 ou 5 anos na escola cresceu de 74,8% para 77,4%:
— Essa escola atende à população mais pobre.
Após considerar como “muito positivos para a educação” os dados da Pnad, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, disse que o governo aposta em várias medidas para diminuir a evasão, como a ampliação do Programa Bolsa Família para quem tem filhos até 17 anos, investimento no ensino profissionalizante e ações para reduzir a gravidez na adolescência.
— Estamos falando de mais de 300 mil meninas que ficam grávidas nessa faixa etária (do ensino médio) — diz o ministro, que defende a reformulação do currículo. — O ensino médio é uma estrutura enciclopédica que precisa ser reavaliada.
Dados da Pnad mostram que 19,2 milhões de pessoas (11,5% do total) com mais de 10 anos não têm qualquer instrução ou estudaram por menos de um ano. Na outra ponta, só 6,6 milhões de brasileiros estavam matriculados no ensino superior, sendo que 73,2% desse total estudavam na rede privada.
— O futuro, dependente da formação de riqueza humana, está comprometido com menos jovens matriculados nas escolas. A política de aumento de renda e emprego a curto prazo parece estar sendo deletéria à formação de capital humano. O aluno fora da escola hoje significa o problema social amanhã — diz Flavio Comim, consultor da Unesco do Brasil. — Essa Pnad mostra a miopia social do país que subinveste em bens públicos e descuida da formação de riqueza humana. O emprego de hoje não pode ser conseguido às custas da redução do capital humano do amanhã.
Analfabetismo acentua queda
Ainda que o país some 12,9 milhões de pessoas que não sabem ler nem escrever, a taxa de analfabetismo brasileira caiu de 11,4% em 2004 para 8,6% em 2011. Em 2009, a taxa foi de 9,7%. Ou seja, no ano passado, houve uma queda mais forte do que vinha sendo registrado anteriormente. E o analfabetismo se concentra na população mais velha: mais de 60% dos analfabetos têm mais de 50 anos.
— A taxa de analfabetismo vinha caindo muito lentamente. Entre 2009 e 2011, a redução é expressiva frente aos movimentos anteriores. Mostra a efetividade de políticas que antes demoraram a aparecer — diz Wasmália.
As estatísticas também dão conta do analfabetismo funcional, representado por pessoas com 15 anos ou mais que tenham menos de quatro anos de estudo completos. Neste caso, 20,4% das pessoas dessa faixa etária se encaixam neste perfil. Se comparada com os indicadores de 2009, a marca foi considerada estável.
— A taxa de analfabetismo cai em todas as unidades da federação. Essa taxa está bastante concentrada no Nordeste, na população mais idosa. É um problema de estoque. O desafio da educação está em sensibilizar a população com 50 anos ou mais a se escolarizar. É nesse grupo que se concentra a maior parte dos analfabetos — diz Maria Lúcia.
Em anos de estudo, o avanço foi mais lento. Os números mostraram que a população brasileira de 10 anos ou mais atingiu uma média de 7,3 anos de estudo, contra 7,2 anos em 2009.
Trabalhando na enxada desde os 8 anos em um sítio de Sairé, a 135 quilômetros de Recife, Maria do Carmo da Silva, 43, foi ser doméstica na capital aos 11 anos. Em Recife, tentou conciliar escola e trabalho, mas não conseguiu: desistiu, casou, teve dois filhos. Quando os meninos foram para a escola, ela tentou estudar em casa pelas lições das crianças. E aprendeu as primeiras letras e sílabas. Mas ler e escrever ela só conseguiu há dois anos, na escola Estadual Santo Antônio:
— Ler mesmo, entender tudo, escrever, posso dizer que foi aqui que aprendi, em 2010, na quarta série.
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